O último dia em Paulínia
Chegou o último dia de filmagens em Paulínia. E o clima é mesmo de despedida. A costumeira saída da equipe do hotel para o set hoje inclui mais do que as bolsas com o equipamento pessoal de cada um: no saguão, malas e malas se amontoam, já que muitos sairão direto do estúdio no Pólo Cinematográfico para o aeroporto.
Começa a desmontagem do cenário em Paulínia… (fotos de Ique Esteves)Por conta disso, o set está previsto para terminar mais cedo, às 13h. Só restam quatro planos a serem filmados aqui, e sem falas. Mas é dia de trabalho e, embora as salas de figurino e maquiagem/cabelo já estejam sendo desproduzidas (um jargão cinematográfico para desmontadas), dentro do set a diretora-assistente Cris D`Amato está ensaiando os movimentos de câmera e as marcações para a primeira cena do dia.
Como hoje é um dia atípico, a equipe está concentrada – mas descontraída. Alguém diz que acha ter visto um pequeno camundongo dentro do cenário – ninguém tem certeza, mas a idéia para uma brincadeira é coisa certa. O contra-regra Farinha pega uma das beterrabas usadas pela Arte na cozinha cenográfica, amarra um fio bem fininho e ata o artefato ao cinto da calça. Quando anda pelo cenário, o “camundongo” vai atrás – para susto das mulheres da equipe, inclusive de Cris, que dá um pulo e um grito quando vê o “visitante” na sala de João Cândido…
Daniel chega às 10h e filma o que falta. Quando vai começar a rodar a última cena, chama todos da equipe – os do Rio, que viajaram com a caravana, os que se juntaram a ela em Paulínia – para acompanhar. Uma multidão de 80 pessoas entra no estúdio. “Só lembrando dos celulares desligados e silêncio, por favor!”, é claro que é Chicão, o chefe do platô, com seu jargão costumeiro.
A cena não podia ser mais simbólica: é Chico Xavier (Ângelo Antônio) psicografando. Apenas isso. A mão esquerda posta sobre a testa, os olhos fechados e a direita escrevendo velozmente à lápis. “Corta!”, diz Daniel pela última vez na cidade paulista. E então pede um minuto da atenção de todos.
“Reuni todos vocês porque acabamos de rodar nossa última cena aqui. A todos de Paulínia que nos ajudaram, em nome da equipe do Rio, muito obrigado. E à equipe do Rio: hoje chega ao fim nossa ‘excursão’. Estamos voltando pra casa!”. Aplausos demorados e todo mundo se emociona. Os que partem abraçam os que ficam. Como os produtores Fernanda Senatori (que volta para o Rio daqui a uns dias) e Michelle Bravi, Suellen Frazz e Belamir Freire – estes, moradores de Paulínia que integraram a família Chico Xavier por duas semanas.
E então os que têm de pegar o avião partem. E os que começam a desmontar o estúdio põem mãos à obra. “Vamos entregar o estúdio totalmente pronto na terça-feira. Por isso, hoje e amanhã a arte desproduz e depois entramos nós para tirar a estrutura”, explica Paulo, da cenotécnica.
Parte da equipe com Belamir (de camisa preta), Michelle (de camiseta verde) e Suellen (ao seu lado), que fizeram a produção na cidade
Entretanto, uma hora depois já está tudo descaracterizado. Dentro e fora do estúdio: o set já não se parece com a casa de Chico, os móveis e objetos da sala estão amontoados em um canto, nos quartos já não há cenografia e a cozinha está vazia dos acessórios verdadeiros usados em cena. Das salas (maquiagem, câmeras, figurino) tudo já foi retirado. E no hall, em vez da costumeira correria de técnicos, produtores, figurinistas, maquiadores e cabeleireiros, dos figurantes esperando para entrar em cena, da bagunça em torno da mesa de café, apenas os carregadores levando o material para os caminhões. Fim de festa…
E uma última surpresa. Ao “psicografar” durante a cena, Ângelo realmente escreve algumas palavras. Sabe o que ele escreveu?
“A Paulínia, um obrigado”
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