O tempo e a fábrica de tecidos
Hoje a corrida é contra o relógio – e a favor de um dia produtivo de filmagem. As quatro cenas da manhã devem ser rodadas em um tempo bem menor do que estava previsto. Por conta do atraso de ontem – em que as filmagens terminaram às 22h30 – a equipe, respeitando o intervalo de 12 horas de descanso, chega ao set mais tarde do que o normal. Isso, somado ao deslocamento de parte do time para a cidade de Americana após o almoço, faz o dia de Chico Xavier ser mais corrido.
Mas o problema com as lentes foi resolvido. Uma equipe técnica de São Paulo veio à base em Paulínia reunir-se com todo o departamento de fotografia. Após uma checagem geral no equipamento – que durou até as 2h40 da manhã – e a testagem realizada pelo primeiro assistente de câmera Jorginho, está tudo ok para continuar!
Mas a pressão do horário faz o set ficar mais tenso. “São 11h20!”, avisa Daniel, mostrando os 20 minutos de atraso da cena – que terá a volta de Chico, o simpático vira-lata que interpreta Lorde, o cãozinho de Chico Xavier.
Chico está assustado com a movimentação no hall do estúdio. Empaca e não quer entrar de jeito nenhum. Neste momento, Daniel também está chegando e, vendo o cachorrinho com medo, pega a coleira. “Deixa

Chico todo prosa no colo do diretor, no Video Assist… (fotos de Ique Esteves)
Jean Pierre Noher (Jean Manzon) e Charles Fricks (David Nasser) chegaram a Paulínia e voltaram ao set. E Jean Pierre logo procura o fotógrafo do filme, Ique Esteves, para mais uma “aula” rápida sobre como manejar a antiga Rolleiflex. “É hoje que eu vou contracenar com ela”, preocupa-se Jean, com seu sotaque meio argentino (ele mora há muitos anos em Buenos Aires), meio francês (o ator, assim como seu personagem, nasceu na França).

Um detalhe interessante sobre como é o quebra-cabeças das filmagens: a cena de Jean, Nasser e Chico é a continuação de outra, gravada em Tiradentes em 11 de julho. Naquela ocasião, os três conversam diante da fachada da casa. Hoje, eles entram na sala de Chico: levaram 12 dias só para atravessar a porta! E a continuidade está lá para garantir que nada se perca entre uma e outra…
Outra rotina deste puzzle é conciliar a gravação com a agenda dos atores – principalmente dos protagonistas. Assim que corta a cena, Daniel “expulsa” Ângelo Antônio do set. “Vai, Ângelo, se manda, cara!”, diz Daniel. Por conta de teatro no Rio, ele tem de sair do set para o aeroporto paulista e do aeroporto carioca para o teatro. Para estar de volta no sábado de manhã – e retornar ao Rio à noite. Não é fácil…
Após o almoço, a filmagem continua em Americana, distante 40 minutos de Paulínia, em uma fábrica têxtil. Mas como sobremesa, teve Parabéns pra você no set: Vô Du – o Professor Pardal de Chico Xavier – completa 48 anos hoje. Para surpreendê-lo, a diretora-assistente Cris D`Amato chama o chefe da maquinária e finge estar brava com alguma coisa. Por trás dos dois, a equipe chega com dois bolos de aniversário. “Pô, ela me pilhou muito”, diz o aniversariante. “Eu já estava ficando nervoso e quando me virei fiquei meio sem graça”, conta uma das pessoas mais simpáticas, gentis e bem-humoradas do set.
Depois de apagar a velinha, Vô Du e o resto de sua equipe partem correndo para a Mubtext, uma das fábricas têxteis que funcionam nos galpões da antiga Indústria de Tecidos Carioba, que fechou em 1974. Depois disso, a prefeitura sublocou partes do lugar para pequenas empresas – que hoje chegam a 30 funcionando ali.
A cena remete a 1922, quando Chico, com 12 anos de idade, trabalhava em uma fábrica de tecidos. “Nem precisamos mexer muito. Até as máquinas são bem antigas”, conta o diretor de arte Cláudio Amaral Peixoto, que destaca um detalhe que compõe o cenário, e que parece coisa de seu departamento: o pó de algodão que sai permanentemente das máquinas acumula-se por toda parte. Nos cabos, no telhado, nas luminárias… um cenário perfeito!

Apenas parte da equipe deslocou-se para a fábrica, e a direção da cena ficou com Cris D`Amato. Mas “parte” da equipe significa um novo comboio composto por 10 carros, entre vans e de passeio, e quatro caminhões. Depois de armar toda a parafernália e colocar os figurantes (adultos e crianças) no cenário de fios de algodão, a cena é finalizada.
Um incidente após a filmagem deu um susto em quem desmontava o set: um curto em uma das luminárias do teto. “Começou a pegar fogo, que foi se espalhando por conta dos fios de algodão”, conta Alexandro Albornoz, o Gaúcho, do platô. A rapidez dos cerca de 20 homens que estavam trabalhando ali conseguiu deter o fogo sem maiores conseqüências. “Usamos os extintores das vans e dos caminhões da produção”, conta Gaúcho.
E pela primeira vez chove, desde que Chico Xavier começou a ser filmado, em fins de junho. Uma chuva forte. Que também parece ter sido encomendada para compor a cena…
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