terça-feira, 15 de setembro de 2009

FILME CHICO XAVIER - 23/julho

O tempo e a fábrica de tecidos



Hoje a corrida é contra o relógio – e a favor de um dia produtivo de filmagem. As quatro cenas da manhã devem ser rodadas em um tempo bem menor do que estava previsto. Por conta do atraso de ontem – em que as filmagens terminaram às 22h30 – a equipe, respeitando o intervalo de 12 horas de descanso, chega ao set mais tarde do que o normal. Isso, somado ao deslocamento de parte do time para a cidade de Americana após o almoço, faz o dia de Chico Xavier ser mais corrido.

Mas o problema com as lentes foi resolvido. Uma equipe técnica de São Paulo veio à base em Paulínia reunir-se com todo o departamento de fotografia. Após uma checagem geral no equipamento – que durou até as 2h40 da manhã – e a testagem realizada pelo primeiro assistente de câmera Jorginho, está tudo ok para continuar!

Mas a pressão do horário faz o set ficar mais tenso. “São 11h20!”, avisa Daniel, mostrando os 20 minutos de atraso da cena – que terá a volta de Chico, o simpático vira-lata que interpreta Lorde, o cãozinho de Chico Xavier.

Chico está assustado com a movimentação no hall do estúdio. Empaca e não quer entrar de jeito nenhum. Neste momento, Daniel também está chegando e, vendo o cachorrinho com medo, pega a coleira. “Deixa comigo, eu levo ele”, diz Daniel. “Chico, vem Chico”, chama. E Chico vai – ele não é bobo de não atender a um chamado do diretor! Melhor ainda é relaxar no Video Assist: enquanto Daniel se reúne com a diretora-assistente Cris D`Amato e a assistente de direção Tatiana Fragoso, lá está Chico todo prosa no colo do diretor do filme…



Chico todo prosa no colo do diretor, no Video Assist… (fotos de Ique Esteves)



Jean Pierre Noher (Jean Manzon) e Charles Fricks (David Nasser) chegaram a Paulínia e voltaram ao set. E Jean Pierre logo procura o fotógrafo do filme, Ique Esteves, para mais uma “aula” rápida sobre como manejar a antiga Rolleiflex. “É hoje que eu vou contracenar com ela”, preocupa-se Jean, com seu sotaque meio argentino (ele mora há muitos anos em Buenos Aires), meio francês (o ator, assim como seu personagem, nasceu na França).

Daniel conversa com os atores Charles Fricks (David Nasser) e Jean Pierre Noher (Jean Manzon) durante um intervalo das filmagens






Um detalhe interessante sobre como é o quebra-cabeças das filmagens: a cena de Jean, Nasser e Chico é a continuação de outra, gravada em Tiradentes em 11 de julho. Naquela ocasião, os três conversam diante da fachada da casa. Hoje, eles entram na sala de Chico: levaram 12 dias só para atravessar a porta! E a continuidade está lá para garantir que nada se perca entre uma e outra…

Outra rotina deste puzzle é conciliar a gravação com a agenda dos atores – principalmente dos protagonistas. Assim que corta a cena, Daniel “expulsa” Ângelo Antônio do set. “Vai, Ângelo, se manda, cara!”, diz Daniel. Por conta de teatro no Rio, ele tem de sair do set para o aeroporto paulista e do aeroporto carioca para o teatro. Para estar de volta no sábado de manhã – e retornar ao Rio à noite. Não é fácil…

Após o almoço, a filmagem continua em Americana, distante 40 minutos de Paulínia, em uma fábrica têxtil. Mas como sobremesa, teve Parabéns pra você no set: Vô Du – o Professor Pardal de Chico Xavier – completa 48 anos hoje. Para surpreendê-lo, a diretora-assistente Cris D`Amato chama o chefe da maquinária e finge estar brava com alguma coisa. Por trás dos dois, a equipe chega com dois bolos de aniversário. “Pô, ela me pilhou muito”, diz o aniversariante. “Eu já estava ficando nervoso e quando me virei fiquei meio sem graça”, conta uma das pessoas mais simpáticas, gentis e bem-humoradas do set.

Depois de apagar a velinha, Vô Du e o resto de sua equipe partem correndo para a Mubtext, uma das fábricas têxteis que funcionam nos galpões da antiga Indústria de Tecidos Carioba, que fechou em 1974. Depois disso, a prefeitura sublocou partes do lugar para pequenas empresas – que hoje chegam a 30 funcionando ali.

A cena remete a 1922, quando Chico, com 12 anos de idade, trabalhava em uma fábrica de tecidos. “Nem precisamos mexer muito. Até as máquinas são bem antigas”, conta o diretor de arte Cláudio Amaral Peixoto, que destaca um detalhe que compõe o cenário, e que parece coisa de seu departamento: o pó de algodão que sai permanentemente das máquinas acumula-se por toda parte. Nos cabos, no telhado, nas luminárias… um cenário perfeito!

Cris D`Amato em plena ação, dirigindo Matheus Costa na fábrica de tecidos, com o diretor de fotografia Nonato Estrela ao fundo





Apenas parte da equipe deslocou-se para a fábrica, e a direção da cena ficou com Cris D`Amato. Mas “parte” da equipe significa um novo comboio composto por 10 carros, entre vans e de passeio, e quatro caminhões. Depois de armar toda a parafernália e colocar os figurantes (adultos e crianças) no cenário de fios de algodão, a cena é finalizada.

Um incidente após a filmagem deu um susto em quem desmontava o set: um curto em uma das luminárias do teto. “Começou a pegar fogo, que foi se espalhando por conta dos fios de algodão”, conta Alexandro Albornoz, o Gaúcho, do platô. A rapidez dos cerca de 20 homens que estavam trabalhando ali conseguiu deter o fogo sem maiores conseqüências. “Usamos os extintores das vans e dos caminhões da produção”, conta Gaúcho.

E pela primeira vez chove, desde que Chico Xavier começou a ser filmado, em fins de junho. Uma chuva forte. Que também parece ter sido encomendada para compor a cena…

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