quarta-feira, 23 de setembro de 2009

FILME CHICO XAVIER - 02/Agosto

A redação e o hospital



Chico Xavier está de volta ao Rio, depois do término da primeira etapa de filmagens. As vans vão chegando ao prédio da Associação Brasileira de Imprensa, no Centro da cidade, e a equipe se reencontra após a folga para dois sets diferentes neste domingo. O primeiro não poderia ser mais oportuno: o sétimo andar da ABI vai se transformar na redação da revista O Cruzeiro, onde David Nasser (Charles Fricks) e Jean Manzon (Jean Pierre Noher) colhem os louros da reportagem que fizeram com Chico Xavier em Uberaba.

A administração da ABI, transformada na redação da revista `O Cruzeiro` na década de 40






No mesmo prédio – mas desta vez no auditório da ABI – será rodado o programa Pinga Fogo, do qual Chico Xavier participou em 1971, com enorme sucesso. Parte da equipe realizou hoje o tech-scout (reunião técnica) no lugar, para definir o posicionamento das seis (!) câmeras para a cena, que só será filmada na próxima semana.

Mas neste domingo a filmagem é no sétimo andar, onde funciona a administração da ABI. Mesmo estando em um andar alto, e num domingo de manhã, o set recebe o barulho dos ônibus da Rua Araújo Porto Alegre – e então o platô, com o auxílio da Cet-Rio, tem a missão de realizar um “fechamento intermitente” do trânsito na Araújo Porto Alegre, na Rua México e na Graça Aranha. A tarefa pode parecer complicada, mas acontece sem transtornos. São poucos minutos de fechamento por vez: só fecha na hora exata de rodar e o trânsito é liberado imediatamente após o ‘corta!’.

As cenas da manhã também marcam mais duas despedidas: a de Charles e Jean-Pierre. Os dois, vivendo a dupla Nasser-Manzon, percorreram as três cidades onde Chico foi filmado. Tiveram cenas em Tiradentes, em Paulínia e no Rio. E hoje deixam o set com um buquê de rosas vermelhas cada um. Jean-Pierre retribui o carinho dando de presente a Daniel um livro mostrando a relação de Jorge Luis Borges com Buenos Aires. Aliás, foi em Gramado, em 2000, que Daniel conheceu o ator, que protagonizou o filme Um amor de Borges. Foi a forma de Noher lembrar a Daniel este momento.







Charles Fricks, Daniel e Jean Pierre Noher: despedida com flores e Borges


A redação de O Cruzeiro também recebeu um figurante de peso: Woody Allen. Ou Israel Gomes, 60 anos, funcionário público. Ele é a cara do ator e diretor de Manhattan. A “descoberta” foi feita pelo assistente de figurino Alex Brollo no dia anterior, durante a prova de roupa. “Quando vestimos seu Israel com as roupas dos anos 40, notei uma certa semelhança. Arrisquei colocar um par de óculos igual ao do Woody Allen. E ele ficou idêntico”, conta Alex. O figurante fez sucesso. Até a diretora-assistente Cris D`Amato, ao fazer a marcação dos figurantes, arriscava um “Woody, vem por aqui!”.

Israel Gomes, mais conhecido pela equipe de ‘Chico Xavier’ como Woody. Precisa dizer por quê?






Seu Israel aparece algumas vezes na redação de O Cruzeiro. Mais uma pegadinha de Chico Xavier: a brincadeira de “Onde está Woody?”quando esta cena for para o cinema…


Mas nem tudo foi festa no primeiro set do dia. Daniel Filho tem olhos de águia. Vê tudo – principalmente o que não está de acordo. E hoje foi um dia de problemas: o contínuo de O Cruzeiro está de terno e gravata. Daniel vê. As luzes das mesas vazias não deveriam estar acesas, mas estão. Ele vê. Os indicadores de andar dos elevadores estão com o número digital… em 1944. Ele também vê. O faxineiro da “redação” não sabe manejar uma enceradeira. Daniel vê – e vai ensinar o rapaz a encerar (marcando o movimento, é claro). “Cada atraso é um plano que é tomado de mim, um plano que é tomado do filme”, diz Daniel para o produtor executivo Julio Uchôa.

E ainda há outro set para o dia de hoje, com duas longas cenas: após o almoço, Chico Xavier vai para o hospital. Lá, Chico (Nelson Xavier) tem mais um “aprendizado” com seu guia espiritual Emmanuel (André Dias). E estará acompanhado por sua fiel escudeira, Cleide, vivida por Rosi Campos. O local é o Hospital do Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro, na Ilha das Cobras (em frente à Praça Mauá).

Filmar em um hospital em atividade requer uma engenharia diferente. A primeira coisa é ser o mais discreto e silencioso possível. Só que discrição, quando se trata de um monte de equipamentos chegando em vans e caminhões e subindo pelos elevadores de serviço, é um pouco difícil. No corredor do terceiro andar do Hospital do Arsenal, o carrinho de comida dos pacientes divide espaço com o carrinho com a mesa de som de Carlos Alberto Lopes. O Video Assist é montado diante da copa.

Já o silêncio é, na medida do possível, respeitado – graças aos constantes lembretes do platô e do diretor de produção Luis Henrique Fonseca. “Psss… pessoal, isso aqui é um hospital. Tem gente internada, vamos fazer silêncio”, pede LH. “Paciência… há pacientes aqui”, faz o trocadilho Cris D`Amato.

Mas toda a movimentação da equipe parece não incomodar nem aos pacientes nem aos médicos e enfermeiras – que até tiram fotos com Rosi Campos. De repente, uma enfermeira atravessa o corredor pensando alto: “Hum… estou quase trazendo meus velhinhos para ver as modas.” Ou: certamente ela queria distrair um de seus pacientes fazendo-o acompanhar a cena…

Por estar localizado bem próximo ao Aeroporto Santos Dumont, o barulho de aviões decolando e pousando – com o ‘congestionamento’ de domingo ao fim do dia – é ouvido de 30 em 30 segundos… E a cena tinha mais do que isso… Fechar o tráfego aéreo o platô ainda não consegue fazer. Resultado: interromper a cada vez que uma turbina gritava mais alto…

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