sexta-feira, 11 de setembro de 2009

FILME CHICO XAVIER - 20/julho

O bom stress!


Junte cinco crianças, uma locomotiva, um set de acesso restrito, uma cena com inúmeros planos e uma traquitana inventada especialmente para o filme. O resultado é o dia de hoje de Chico Xavier.

A equipe a postos para gravar a complicada cena de ação do dia (fotos de Ique Esteves)




As crianças são os atores-mirins que vão contracenar com Matheus Costa – e que já chegaram mostrando ao que vieram, fazendo a maior algazarra na fazenda Santa Maria. Eles estão no set para atormentar Chico Xavier criança. Esta é a cena que será filmada hoje, toda em externa, na linha férrea dentro que atravessa a fazenda.

São 10h30 e tudo está pronto para rodar. Inclusive o objeto do desejo de Steven Spielberg, a locomotiva 338, com seus vagões vermelhos, parada à distância. Hoje ela é uma das estrelas: deve ir e vir diversas vezes, para vários planos e tomadas. É uma cena difícil, que deve zelar pela segurança das crianças, mas exige muita rapidez e concentração de todos e requer muitos planos (quando a seqüência a ser filmada é dividida em muitas partes). Além disso, para simular o movimento do trem, é necessário que a câmera corra no próprio trilho da linha férrea, e não no trilho normalmente usado, em paralelo.

E isso é um trabalho para Vô Du, o chefe da maquinária, um verdadeiro professor Pardal. Logo cedo, ele montou a sua máquina: instalou rodinhas especiais no carrinho de travelling adaptando-o ao trilho do trem. O resultado foi um deslizamento perfeito, suave, sem qualquer trepidação para a câmera. O carrinho foi devidamente batizado: a traquitana de Vô Du. O artista caminhava prosa pelo set, esbanjando seu sorriso contagiante. Com o Vô Du, alguém disse, não tem mau tempo.

Vô Du, chefe da maquinária e um inventor de soluções, orgulhoso de sua traquitana



Se o primeiro problema foi resolvido, o outro era um pouquinho mais complicado: tirar dos meninos a emoção e a concentração necessárias para a cena. Ao chegar ao set, Daniel se dirigiu às crianças, explicou a cena e disse o que queria. Mas Gabriel e Felipe, que brincavam sem parar fora de cena, na hora de rodar se mostraram mais quietos do que o que a cena pedia.

O jeito foi Daniel encarnar uma espécie de professor severo, que chama a atenção para que eles despertem para a cena. “Felipe, se movimenta, não fica segurando no suspensório”, diz Daniel. Quando o menino repete a mania, o diretor brinca: “Olha, se pegar no suspensório eu vou colocar pimenta nele.” Quando nem isso resolve, entra o professor: “Felipe, tira a mão do suspensório! E todo mundo concentrando. A partir de agora ninguém mais fala, ninguém mais brinca. Concentra no personagem!”, ralha Daniel. E deu certo! Até o ator-mirim mais velho, Guillermo, chama a atenção dos colegas: “Vocês vieram aqui pra brincar? Se concentra, cara, a gente veio filmar. Viu, já levou uma bronca do diretor…”

Para conter as brincadeiras dos meninos e ‘chamá-los’ para a cena, Daniel encarnou o professor severo. Deu certo…





Na próxima tomada, nova engenharia do pessoal da maquinaria – em conjunto com a equipe de elétrica e do platô . O plano pede que os meninos “sumam” entre os dormentes do trem, sobre uma ponte. Zelando pela segurança das crianças, a produção entrou em contato com o Corpo de Bombeiros de Campinas e os bombeiros Monteiro e Carlos Alexandre – e um carro da corporação – estão a postos, supervisionando o trabalho e atentos ao caso de alguma necessidade. Sob a ponte, Vô Du monta uma plataforma e nela se posicionam os dois bombeiros e mais o eletricista Anderson Cabeça, o assistente de elétrica Francis e o assistente de maquinária Eduardo (o Torresmo). Uma rede de proteção também é montada abaixo da plataforma. E nos trilhos, logo acima, junto às crianças, a diretora-assistente Cris D`Amato, o contra-regra Farinha e o incansável Vô Du.

Os meninos Gabriel, Felipe (à frente) e Guillermo (atrás) com Matheus Costa





Não foi fácil. Sai o praticável, volta o praticável. Vem o trem, volta o trem. Plano para a direita, depois para a esquerda, mais um close e um detalhe. Com butterfly (um croma key para posterior aplicação dos efeitos visuais), sem butterfly; desmonta tudo para liberar o tráfego, monta tudo de novo e fecha o trânsito… E Chicão, chefe do platô, rege essa orquestra de monta-desmonta.

A essa altura, até os atores que não participam se interessam pela cena: Oswaldo Mil desce até o set; Ângelo Antônio e Cássio Gabus Mendes (os três voltaram hoje ao filme) assistem de longe. O cuidado de toda a equipe com a segurança das crianças é impecável. Daniel Filho, por exemplo, ao ver Matheus Costa aparentemente perdendo o equilíbrio sobre os trilhos, se assusta: “Cuidado, Matheus, pelo amor de Deus!”, grita de longe. Para o menino acalmá-lo: “Não vou cair não, só tô treinando o que eu vou fazer…”

O aparato montado pelas equipes de maquinária, elétrica e platô, para garantir a segurança da cena
Ao final, os bombeiros Monteiro e Carlos Eduardo acentam com a cabeça: “Foi muito bom, deu tudo certo, foi muito seguro. Melhor até do que a gente esperava”, diz Monteiro. Foram sete horas e cinqüenta minutos para rodar uma cena – com muita ação – que, na tela, deve durar um minuto e meio. Um trabalhão danado – foram rodados 26 planos – , mas o set está exultante. “Esse é o bom stress!”, vibra Chicão.

“Obrigado, gente! Um dia bom. Difícil, complicado, mas muito bom! Obrigado a toda a equipe da pesada. Parabéns Vô Du! Cabeça, Marcão, elétrica, obrigado!”. Era Daniel encerrando o set e partindo ainda àquela hora para a estação de trem de Campinas, para conferir uma nova possível locação.

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