Despedida…
Uma grande e densa cena, dividida em várias seqüências, é o que o Estúdio 3 do Pólo de Cinema da Paulínia recebe hoje. A cena também marca a despedida do filme de alguns membros da família Xavier.
Logo cedo, as seis irmãs, o irmão Raimundo, o cunhado e o sobrinho de Chico chegam ao set juntos. Antes de entrar para a maquiagem e o figurino, se reúnem diante do prédio para um papo. Parecem mesmo uma família em clima de despedida.
O elenco de Chico Xavier reuniu esses atores – com experiências tão diversas – para participações especiais. Juntos, foram apenas quatro dias. “Mas fizemos cenas tão fortes, mesmo as que não tínhamos fala, que é uma experiência inesquecível. E que nos aproximou mesmo”, conta Cacá Dias, que vive Raimundo.
Enquanto isso, dentro do set, Daniel tem um problema sério nas mãos: quatro lentes das câmeras estão apresentando problemas. “Em 40 anos de filmagem nunca vi isso”, diz Daniel, quando chega ao set e é informado do que está acontecendo. “É como filmar sem Ângelo, como jogar sem Michael Jordan”, continua.
Uma reunião em um canto do set reuniu, além de Daniel, o diretor de produção Luiz Henrique Fonseca, o diretor de fotografia Nonato Estrela, o operador de câmera Gilberto Otero e os assistentes de câmera e foquistas (responsáveis pelo foco da câmera) Jorginho e Silvia Gamgemi. “Eu não tenho capacidade técnica para resolver isso”, diz Daniel. “Mas é um problema que todos nós estamos enfrentando. Temos que resolver rápido, e o que vocês decidirem é o que vai ser”, decreta o diretor. Um novo jogo de lentes precisa estar no set o mais rápido possível, para passar pela aprovação da equipe. Mas, para hoje, uma das lentes mais usadas no filme, a 50 mm, esteve fora de cena.
Após a reunião o set parte para a longa cena do dia: muitos atores (14 da família em cena), muita marcação, muitos movimentos de câmera. Daniel faz quatro, cinco ensaios. O diretor é reconhecido por gostar de gravar de primeira. Os vários ensaios preparam atores e técnicos para este take único.
Isso também foi utilizado na cena seguinte – uma conversa delicada entre Chico (Ângelo Antônio) e seu guia espiritual Emmanuel (André Dias) –, em que uma dinâmica diferente tomou conta do set: Daniel pede silêncio absoluto e nenhum movimento, para a concentração total dos atores. Começa a rodar e, ao invés do tradicional “ação!”, Daniel diz, bem baixo: “No seu tempo, Ângelo, o tempo que precisar.” E mais uma cena forte do filme é filmada em take único.
O dia é mesmo da família. Por chegar a Paulínia vindo da estréia de sua peça no Rio, Ângelo aproveitou o tempo entre duas cenas para descansar e relaxar. Lugar melhor não havia: o `seu quarto`, dentro do cenário. Nos outros cômodos estavam os outros membros do clã.
Todas as cenas de hoje foram centradas nos oito irmãos e demais parentes de Chico Xavier que estão retratados no filme. Alguns continuam filmando, como Carla Daniel (Carmosina), Larissa Vereza (Lúcia), Oswaldo Mil (José) e Alexandre David (Pacheco, marido de Carmosina). Mas outros estão dando adeus à vida de Chico Xavier.
Carla Daniel no camarim: como os outros atores que aguardavam para filmar, ela despetala as rosas que serão usadas. A atriz ainda tem cenas como Carmosina e não se despede de Chico Xavier hoje
Atores e atrizes como Flávia Guedes (Geralda) , que há seis anos está em cartaz com O surto, peça que escreveu, dirigiu e atua; Tânia Costa (Maria Cândido), que teve sua formação de atriz toda na França (no Conservatório de Teatro, Cinema e TV), onde morou por 23 anos, e fez uma carreira de sucesso até voltar ao Brasil, há quase três anos; Andréa Caldas (Luiza), cujos últimos trabalhos foram participações nas novelas Cobras & lagartos e Duas caras, da Rede Globo; Kika Freire (Geni, cunhada de Chico) que, com 22 anos de carreira, atualmente interpreta a índia Potira em A grande família, além de dirigir e coreografar o musical As Robertas e participar de Feliz Natal, de Selton Mello; e Carla Kabé (Maria da Conceição) que começou a carreira como modelo na Itália e descobriu o teatro ao estudar com o fundador da Escola de Arte Dramática de Moscou, Jurij Alschitz, com quem encenou Sonhos de uma noite de verão e voltou ao país há cinco anos.
Dois atores também se despedem da família e do set: Cacá Dias (Raimundo, irmão de Chico), que este ano encenou Quando se é alguém, um texto inédito de Pirandello dirigido por Marta Ribeiro, e participou da novela Chamas da vida, da Record. E Samuel de Assis (que vive Altair, sobrinho de Chico), cujos últimos trabalhos foram A lei e o crime, na Record, a peça Trans-TV, com direção de Felipe Ribeiro, e curtas como Água viva, de Raul Maciel. Um time de peso que viraram parentes por algumas cenas.
Para homenageá-los, no encerramento do dia Daniel entregou um buquê de flores a cada um, agradecendo a participação de todos nesta jornada. E foram todos para o hall do estúdio comemorar com pizza e refrigerantes.
Ao fim do dia, Daniel distribui buquês de flores aos atores que encerram sua participação hoje. É ou não é uma foto de família?
Antes da festa, porém, entram em cena o contra-regra Farinha e seu assistente Rui Júnior, mais o pessoal da Arte e da Maquinária. É preciso retirar uma parede e o teto do cenário para a próxima gravação. O que deveria levar 15 minutos acaba levando 1h20 – atrasando, em muito, o fim do set. Resultado: amanhã, o que deveria ser filmado em quatro horas, terá de ser feito em apenas uma… Take único!
Sem o teto, abre-se o espaço para a câmera da grua filmar a cena do alto. E uma chuva de pétalas de rosas brancas cai sobre o cenário…
Uma bela forma de se despedir de alguns dos membros da família Xavier.
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