quarta-feira, 9 de setembro de 2009

FILME CHICO XAVIER - 18/julho

Viajando na Maria Fumaça


Pedro Leopoldo, 1918. Ou Fazenda Santa Maria, em Tanquinho, a 30 minutos de Paulínia. Primeiro dia de filmagem na cidade paulista e a expectativa é por duas cenas protagonizadas por Rita, tia de Chico, que será interpretada por Giulia Gam.

Giulia Gam faz exercícios de alongamento antes de viver Rita, a tia de Chico (fotos de Ique Esteves)





A atriz chegou à Paulínia na quinta-feira e, desde então, vem se preparando para viver a personagem. “Tô apavorada com ela”, diz Giulia, referindo-se à conturbada relação de Chico criança com a tia. Antes da cena, ainda sem a caracterização, Giulia senta-se ao sol, sob uma árvore do grande gramado atrás do set. Ensaia seu texto com um Chico imaginário. Depois, já Rita, passeia pela fazenda, relaxando.

Para esta cena, o ator mirim Vitor Navega, 11 anos, que vive Moacir, filho de Rita e primo de Chico, tem uma ferida na perna – e o machucado deve ter uma aparência purulenta. Um trabalho para a maquiadora Rose Verçosa, que desde a pré-produção do filme vem elaborando este detalhe da cena. “Não a maquiagem, que é uma técnica normal de efeitos especiais para o cinema”, conta Rose. “Mas sim o pus que sai da ferida, já que ela teria que ser lambida por um menino”, diz. Lambida? Bem, este é um segredo do filme que não podemos revelar…

Rose Verçosa e Ancelmo Saffi preparam a `ferida purulenta`do ator Victor Navega Motta, que interpreta Moacir, filho de Rita


Mas dá para contar como Rose desenvolveu o efeito. “Eu estava em casa, pensando em como fazer isso, conversando com minha faxineira e amiga há 18 anos, a Maria Amélia. `Como vou fazer uma coisa que o menino possa tocar com a boca?`. E ela me disse: `tem que ser doce’. E aí veio o estalo: leite condensado! Com um pouquinho de anilina amarela sabor laranja e pronto. Ficou palatável”, conta a maquiadora, que executou o trabalho junto com o assistente de maquiagem Ancelmo Saffi.

Pouco antes desta cena, próximo à linha férrea, é filmada a primeira cena do dia: Luis Mello e Matheus Costa andando entre os dormentes. Uma cena simples e rápida, mas que trouxe à tona uma brincadeira nos bastidores de CX: o de conseguir o que Steven Spielberg não conseguiu.

Na linha férrea por onde a locomotiva 338 irá passar, Matheus Costa ensaia para a cena



Para a continuação desta cena, uma maria fumaça irá atravessar diante da câmera de Gilberto Otero: a 338, a última locomotiva deste modelo em perfeito estado de conservação do mundo, restaurada pelo Museu Ferroviário de Campinas – e que, por isso mesmo, o diretor de ET quis comprar para utilizar em um filme. Mas não levou. A velha e bela locomotiva estará em Chico Xavier. “Eu li sobre isso e perguntei se entre as locomotivas que usaremos estava a 338. E estará! Portanto, em alguma coisa vou deixar o Spielberg com inveja! Ele queria comprar este trem e eu tenho!“, comemora Daniel Filho, que cita: “Orson Welles disse que o cinema é o maior trenzinho elétrico que foi inventado para o homem brincar…”. Spielberg pode morder o cotovelo porque quem vai brincar com este trem é a produção de Chico Xavier…

E a 338 iria chegar em breve. O trem que faz o roteiro turístico Campinas-Jaguariúna iria passar por Tanquinho dali a pouco. E quando passa, o set silencia: o apito choroso da locomotiva, a fumaça da caldeira voando ao vento, o pequeno Chico sobre um barranco observando a maria fumaça… isso é Pedro Leopoldo, 1918.

Como também é a casa de Rita – a única desabitada na fazenda – , que teve as paredes internas demolidas para aumentar o set e abrigar a cena, na sala com fogão de lenha aceso, panelas de ferro e barro, oratório e filtro de época, daqueles de barro que refresca a água. A família reunida em volta da mesa – tendo à cabeceira o ator Paulo Vespúcio, que também integra o elenco, vivendo o marido de Rita, Emiliano. Como Giulia, ele também está ansioso por sua primeira cena. Os dois passam o texto sob as árvores, e então Giulia relaxa. “Depois da primeira cena vai fácil…”, diz a atriz.


Daniel ensaia o elenco para a cena na casa de Rita, que foi totalmente transformada: as paredes internas foram demolidas para aumentar o set e os elementos de cena reproduzem a casa humilde do início do século passado

Uma pausa para comemorar a chegada de um novo integrante da equipe de Chico: o trailer de Daniel, oferecido pela Film Commission de Paulínia, um espaço para o diretor relaxar entre as cenas. Quem passava, queria dar uma espiadinha. “Coloca uma placa: cuidado, diretor raivoso!”, brinca Daniel. “Limpa o pé!”, avisa, quando o diretor de fotografia Nonato Estrela sobe o primeiro degrau.

A última cena do dia, ao cair da tarde, contou com uma feliz coincidência: o retorno da locomotiva da manhã e do sol que o diretor esperava abrir. Cinema também se faz com sorte… Após a cena – em que estava Matheus Costa – Daniel, olhando pelo monitor, elogiava o talento do menino, além de seu caráter e boa educação . Sem saber que Leila Costa, mãe de Matheus, estava atrás dele, ouvindo e chorando de alegria…

Ah, sim: voltou ao set o câmera Daniel Duran, já totalmente recuperado da catapora que o afastou do filme por uma semana. Sem nenhuma pintinha…

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