quarta-feira, 16 de setembro de 2009

FILME CHICO XAVIER - 25/julho

A volta de Nelson



O termômetro marca 10 graus às 7h20, e o comboio de Chico Xavier parte em direção à antiga estação ferroviária de Campinas, para a primeira cena após a folga de ontem. Todos contando o que fizeram, ainda comentando o fogo na fábrica na quinta-feira e se preparando para começar mais uma semana de filmagens. Sim, o calendário do filme é contado a partir da folga. Portanto, hoje, sábado, é segunda-feira para a equipe. E com muitas novidades.

A filmagem na estação tem um outro atrativo, além da bela locação: é a volta de Nelson Xavier ao filme. O ator, que vive Chico na maturidade, ainda não havia se unido à caravana desde o início da viagem. Ele filmou no Rio e só agora inicia suas cenas em Paulínia, para depois encarar a maratona que terá na volta da viagem. Rosi Campos, que vive Cleide, parceira do médium por longos anos, também chegou com Nelson.

O contra-regra Farinha troca a placa da antiga estação de trem de Campinas: agora é Uberaba, em 1969 (fotos de Ique Esteves)






A cena, de número 130 do roteiro, marca a passagem de tempo do Chico de Ângelo Antônio para o Chico de Nelson Xavier. Para isso, o dressing do set esconde a placa “Plataforma 2” por “Uberaba”. Quando o chefe do platô, Chicão, vê três maquinistas e um eletricista trocando uma lâmpada da plataforma, já se arrepia: “Ai, meu Deus, lá vem lâmpada de novo!”, brinca, ainda lembrando que foi uma lâmpada o que causou o curto – contido pela equipe – no set em Americana.

Nelson Xavier, o Chico na maturidade, volta ao set e se encontra com Matheus Costa, o Chico criança





E então chega Nelson Xavier. Logo cedo, às 6h30, a assistente de cabeleireira Luana Jacob foi ao encontro do ator onde ele está hospedado, em Campinas, para começar a metamorfose: pintou e cortou seu cabelo – aumentando em quase 2/3 sua testa, para reproduzir a calvície de Chico nesta época da vida. Depois, já no set, a maquiadora Rose Verçosa finalizou o processo de transformação, através da maquiagem.

Foi uma cena curta. Ensaiada três vezes e gravada em take único, ao estilo Daniel. Apenas 15 minutos. Mas para que ela acontecesse, foram 40 minutos de deslocamento e 2h30 para arrumar todo o equipamento. Isso é cinema!

Tudo finalizado às 10h20. E Daniel brinca: “Almoço!”, reproduzindo uma hora esperada por todos… O mais incrível é a desprodução (desmontagem) do set: 5 minutos, contados no relógio. E não havia mais vestígio de que naquela plataforma havia sido filmada uma importante cena de Chico Xavier. Isso é que é efeito especial…

Então todos retornam ao estúdio 3 do Pólo Cinematográfico de Paulínia. Lá, uma outra estréia de peso aguarda a equipe: a primeira cena de Giovanna Antonelli, que vive Cidália, a madrasta de Chico em 1922. Foi Daniel quem a introduziu no set: “Está entrando em cena Giovanna Antonelli!”, anuncia. Ela cumprimenta a todos e faz carinho em Matheus, com quem contracenou na novela Três irmãs.

Giovanna Antonelli, nas mãos da assistente da cabelo e maquiagem Glória Maria, filma suas primeiras cenas como Cidália, a boa madastra de Chico





Esta cena – como as demais em que os dois contracenam – mostra o relacionamento carinhoso que o pequeno Chico tinha com a segunda mulher de seu pai. São cenas tocantes, emocionadas… Mas alguém no set chora de verdade: o menino Nicolas, escalado como figurante-mirim para viver um dos meio-irmãos de Chico, começa a chorar em sua cama (onde gravaria). Ele queria porque queria ir ao Rodoshopping, localizado dentro do complexo do Pólo Cinematográfico. A produção e Daniel, cuidadosos com o menino, chamam sua mãe e começam a distraí-lo. Com a mãe ao lado, Daniel brinca com ele, a diretora-assistente Cris D`Amato mostra fotos de seu celular, até ele esquecer do shopping e fazer a cena direitinho…

A cena foi acompanhada pelo secretário de Cultura de Paulínia, Emerson Alves, e pela secretária de Recursos da prefeitura, Carol Bordignon. Eles foram ao set pela primeira vez acompanhar o dia de filmagem. “Estamos investindo pesado para fazer de Paulínia um grande centro de produção do nosso cinema. E ter Chico Xavier aqui, com boa parte de suas filmagens é muito importante”, diz o secretário de Cultura, que antecipa que, depois de Chico, mais cinco projetos estarão sendo filmados aqui este ano, e a meta é ter 20 produções nos próximos 12 meses. “Isso para blockbusters e para produções de baixo orçamento. O que queremos é dar nossa contribuição para o desenvolvimento do cinema brasileiro.”




O secretário de Cultura, Emerson Alves, e a secretária de Recursos da prefeitura de Paulínia, Carol Bordignon, visitaram o set e acompanharam a filmagem do dia

Alguns momentos que misturaram tensão e descontração: Daniel estava pronto para filmar. Mas a assistente de direção Tatiana Fragoso pediu um minuto para acender uma vela do cenário. Impaciente, Daniel disse ao microfone, e sua voz ecoou pelo set: “Um minuto pra acender uma vela? Em um minuto eu acendo 60 velas!”. Como todo mundo fica em polvorosa quando Daniel reclama, foi um rebuliço. Em outro momento, ao ver que uma das portas estava fechada, quando ele já havia feito a marcação com a porta entreaberta, avisou: “Eu não tenho que ficar vendo isso. Da próxima vez que eu notar algo assim eu vou ser de-sa-gra-dá-vel.” Mas logo depois o clima amenizou quando, pelo mesmo microfone, Daniel falou, em tom de lamento: “ai, como eu sofro… ai, como eu sofro…”. Do outro lado do set, todo mundo ri baixinho.

Outra nova aquisição de Chico Xavier é Sandra, set dresser de São Paulo que chegou para auxiliar o diretor de arte Cláudio Amaral Peixoto com novos acessórios para o dressing da casa de João Cândido. “Esgotamos tudo o que havia nos antiquários de Campinas, já que em Paulínia não há nenhum. E alguns dos objetos não foram do agrado do Daniel. Como temos uma equipe muito enxuta e trabalhando nas cinco frentes de filmagem, contar com este apoio, que trouxe material de São Paulo, é bom”, diz o diretor de arte.

E outra sombra ronda o set: o temor da gripe suína. Não há nenhum caso na equipe – toc, toc, toc – mas a preocupação não diminui. “É inegável que estamos fazendo um filme sob essa ameaça, uma vez que somos muitos, sempre juntos e em ambientes fechados”, preocupa-se Daniel.

Mas não é o vírus H1N1 que está fazendo a equipe inteira tossir – são a temperatura e a chuva. É uma sinfonia no set. Tanto que, na última cena filmada hoje, em que Giovanna deveria tossir bastante, Daniel declarou: “Esta cena é em homenagem à nossa equipe.” E mais tosses…

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