segunda-feira, 21 de setembro de 2009

FILME CHICO XAVIER - 29/julho

Sem chuva, mas com muito trabalho

… e o dia amanhece sem chuva em Paulínia! Alguém lá em cima está ao lado da produção de Chico Xavier! Mesmo com a previsão da meteorologia apontando para o dia inteiro chuvoso, a caravana segue a seco para a Fazenda Santa Maria, em Tanquinho, a 30 minutos de Paulínia, para um dia de (muito) trabalho.

É o penúltimo dia de filmagem na cidade e a quantidade de cenas e planos é grande. Tanto que a equipe foi dividida em duas frentes: uma, com a direção de Daniel, segue para a estação de trem localizada próximo da locação usada para a casa de Rita, madrinha de Chico. A outra unidade, dirigida por Cris D`Amato, ficará na antiga sede da fazenda, do outro lado da linha do trem. As duas filmarão, no total, 17 seqüências, entre cenas e planos (cenas sem fala).




Daniel e os três Chicos: Matheus Costa, Ângelo Antônio e Nelson Xavier, que pela primeira vez estiveram juntos no mesmo set (fotos de Ique Esteves)





Um fato inédito: hoje, os três Chicos (Matheus Costa, Ângelo Antônio e Nelson Xavier) estão, pela primeira vez, no mesmo set. Logo pela manhã, enquanto Cris filma Chico/Ângelo em 1940 nas baias da Fazenda Modelo (em Pedro Leopoldo, onde o médium trabalhava nesta época), Daniel grava com Chico/Nelson dentro do trem em 1969, desembarcando em Uberaba. E Chico/Matheus aguardava sua hora de entrar em cena jogando PSP. Tempo e espaço se confundem, separados apenas por um grande pasto, onde vacas e cavalos assistem alheios à movimentação.

E as cenas continuam, simultâneas: Cris e a última cena de Luís Mello no filme, em 1922; Daniel e Ângelo filmando em outro trem, em 1959 – dois trens foram usados nas cenas hoje. Cris com Matheus Costa (Chico criança) entrando na fábrica na década de 20; Daniel recebendo mais uma “participação amorosa” no filme (a assistente de produção executiva Vera Mello, como uma das passageiras do trem) e gravando um plano de cima da locomotiva, com mais uma traquitana para dar sustentação à câmera, no fim da década de 50.

Vera Mello (à frente) com suas companheiras de trem: mais uma participação amorosa no filme






E então um susto: pelo rádio, a assistente de câmera Silvia Gangemi avisa ao diretor de produção Luiz Henrique Fonseca – que estava do outro lado da linha do trem, em “1959” – que a câmera 16mm usada para fazer cenas especiais (reproduzindo cenas verdadeiras) quebrou. Luiz Henrique coloca um técnico em contato com Silvia pelo telefone, de São Paulo, mas o diagnóstico não é bom. A câmera não poderá ser utilizada. “Tivemos que gravar a cena com a RED mesmo, a câmera digital com a qual todo o filme está sendo feito, e depois será dado o mesmo tratamento de imagem de uma 16mm”, explica o experiente câmera Gil Otero.

Pelo menos, nada de chuva ainda. De vez em quando uma nuvem carregada aparece no horizonte, mas um sopro mais forte a leva embora. Na plataforma da estação, enquanto esperam a arrumação de outra seqüência, acontece uma cena digna de registro. Daniel e Ângelo sentados, lado a lado, conversando. Em determinado momento, falando sobre livros, o ator pergunta:

“Se você fosse para uma ilha deserta e só pudesse levar um livro, qual levaria?”

“Eu levaria um livro de poesia”, responde Daniel. “Uma poesia você pode ler várias vezes, de muitas maneiras diferentes…”

“Não levaria Shakespeare?”, quer saber Ângelo.

“Só se eu aprimorar mais o inglês para ler no original. Quando leio Fernando Pessoa, mentalmente leio com sotaque português… Com Shakespeare teria de ser a mesma coisa”, responde Daniel. É ou não é uma cena de cinema? Só que ainda há muitas outras para rodar à tarde. E logo Chico Xavier/ Ângelo Antônio entra no trem, deixando Pedro Leopoldo – e a poesia – para trás…

No almoço – uma paella preparada por Carlos Guilherme, dono do catering que abasteceu a equipe em Tiradentes e que, a convite da produção, acompanhou a caravana, agora só como chef – uma surpresa: Daniel entra com outro buquê de flores nas mãos, pedindo um minuto de atenção. “Pessoal, hoje vamos perder nossa ‘opção chuva’. Mas que não sairá de nosso coração e de nosso celulóide. Ao nosso querido Luís Mello!”. E o almoço se transforma em festa. Todos aplaudem e, fazendo jus ao bom humor e espírito brincalhão de Mello, soltam gritinhos de “Te amo!”, “Poderoso!”, “Lindo!”. Quem não entendeu o ‘opção chuva’ de Daniel, é só procurar no arquivo deste blog… que a piada é explicada.

Ângelo Antônio e a assistente de direção Anita Barbosa se despedem de Luís Mello




Depois da homenagem, Daniel dá um depoimento para a produtora D7 Filme, que faz um documentário para a Film Commission de Paulínia, e recebe jornalistas dos jornais Tribuna de Paulínia, Correio Popular, de Campinas e região, e Todo Dia, de Americana e região. Bem-humorado – e “dirigindo” o posicionamento da câmera para a entrevista – , Daniel fala sobre Chico Xavier, sobre o filme, sobre as locações e o apoio da cidade às filmagens.

Em determinada altura, quando um dos repórteres pergunta se já havia acontecido algo “mágico”durante as filmagens, Daniel cita o tempo. “Se você quer mágica, é não chover hoje. Mas não acho que Chico Xavier tenha algo a ver com isso…”. De qualquer forma, o santo do diretor é forte: pela manhã a equipe da produtora saiu de São Paulo embaixo de um temporal (que passou a 10 quilômetros da fazenda) e em Campinas choveu granizo.

Lembram de Chico, o vira-lata simpático que ‘interpretou’ Lorde, o cachorrinho de Chico Xavier? Pois então: para ele também há passagem de tempo. Aqui, o figurante Guilherme, que entrega o cão ao médium no filme, segura o filhote que vive Chico (o cão) bebê

O dia está acabando e, com ele, a última filmagem externa em Paulínia. Amanhã, o último dia na cidade será no Pólo Cinematográfico. E a cena é bem significativa: também marca despedida de Cássio Gabus Mendes (que faz o padre Júlio Maria, o antagonista de Chico Xavier na década de 40) e de Oswaldo Mil, que vive José, o irmão e parceiro de Chico nesta época. “É sempre um prazer fazer qualquer coisa com Daniel”, diz Cássio. “Mesmo um papel pequeno tem uma força muito grande. E este é um filme especial, por falar de uma pessoa especial. Desde que eu me entendo por gente acompanho a história de Chico Xavier. E hoje eu estou aqui, pertinho dele…”, conta o ator.

A luz do dia foi embora, as flores e os agradecimentos são entregues a Cássio e Oswaldo. Um mugido de uma das vacas no pasto corta a cena. Um galo canta fora de hora. Está quase na hora de a caravana de Chico Xavier seguir viagem…

Daniel pode não acreditar, mas foi só terminar a enorme seqüência de externas para, na estrada de volta a Paulínia, um temporal desabar sobre as vans da equipe…

Nenhum comentário: