terça-feira, 25 de dezembro de 2007

BIOGRAFIA - INÁCIO BITTERNCOUT


Nascido a 19 de abril de 1862, na Ilha Terceira, Arquipélago dos Açores, Freguesia da Sé de Angra do Heroísmo (Portugal), e desencarnado no Rio de Janeiro a 18 de fevereiro de 1943.
Em plena juventude, Inácio Bittencourt emigrou para o Brasil, sem alimentar idéia de enriquecimento, mas buscando um ideal que sua intuição afirmava poder encontrar em sua segunda pátria.


Sem qualquer proteção ou amparo, desembarcou no Rio de Janeiro, sozinho e com irrisória quantia no bolso. Entretanto, já era um jovem de caráter sério e de grandes dotes morais.


Inácio Bittencourt foi um desses abnegados, que só se alegravam com a alegria do seu semelhante. Por isso foi aquinhoado com a mediunidade natural, que geralmente depende da evolução espiritual do indivíduo. Ela surgiu espontaneamente, sem qualquer esforço de planejamento, como um imperativo da essência de sua alma boa e sempre disposta à prática do bem.


Aos vinte anos de idade inteirou- se da verdade espírita. Bastante enfermo e desesperançado, foi levado à presença de um médium chamado Cordeiro, residente na Rua da Misericórdia, no Rio de Janeiro, e, graças ao auxílio espiritual recebido, teve a sua saúde completamente restabelecida. Inconformado com a rapidez da cura, voltou e indagou do médium: "Não sendo o senhor médico, não indagando quais eram os meus padecimentos e não me tendo auscultado ou apalpado qualquer um dos órgãos, como pôde curar- me?"


E a resposta veio incontinenti: "Leia "O Evangelho Segundo o Espiritismo" e "O Livro dos Espíritos". Medite bastante e neles encontrará a resposta para a sua indagação".


Bittencourt seguiu o conselho e, desde logo, com grande surpresa e naturalidade, se apresentaram nele algumas faculdades mediúnicas. Descortinando novos horizontes, rompido o véu que impedia que conhecesse novas verdades, integrou- se resolutamente na tarefa de divulgação evangélica e de assistência espiritual aos mais necessitados.


Bem cedo, com trinta anos de idade, sua personalidade alcançou grande destaque nos meios espíritas e mesmo fora deles. Poderia ter alcançado culminância na política, desde que aceitasse a indicação de seu nome para uma chapa de deputado, uma vez que era apoiado por vários senadores da República. Sua vitória na eleição não sofreria dúvida. Porém, sempre humilde, fugindo aos movimentos alheios à caridade, preferiu viver no seu mundo, no qual reinava a figura exponencial e amorosa de Jesus Cristo.


Fundou a 1.o. de maio de 1912, e dirigiu- o durante mais de trinta anos, o semanário "Aurora", que se tornou conhecido e apreciado veículo de divulgação doutrinária. Sob sua presidência foi fundado cm 1919 o "Abrigo Tereza de Jesus", tradicional obra assistencial até hoje em pleno funcionamento, com larga soma de benefícios a crianças desamparadas, de ambos os sexos.


Fundou o Centro Cáritas, juntamente com Samuel Caldas e Viana dc Carvalho, presidindo- o até a data da sua desencarnação. Tomou parte ativa na fundação da "União Espírita Suburbana" e do "Asilo Legião do Bem", que acolhe vovozinhas desamparadas. Durante alguns anos exerceu também a Vice- Presidência da Federação Espírita Brasileira, presidiu o "Centro Humildade e Fé", onde nasceu a "Tribuna Espírita", por ele dirigida durante alguns anos.


A mediunidade receitista e curadora de Inácio Bittencourt mereceu diversas opiniões. Algumas vezes chegou a ser processado "por exercício ilegal da medicina", mas sempre foi absolvido. Em 1923 houve um acórdão importante do Supremo Tribunal Federal, a respeito.


Certa vez, no Centro Cáritas, ao ensejo de uma prece, ouviram- se na sala, de forma bastante nítida, acordes de um violino. O artista invisível executava estranha e belíssima melodia, envolvendo a todos em profunda emoção.


Bittencourt, então, salientou que aquela audição representava magnânima manifestação da graça de Jesus Cristo, permitindo que chegasse ao grupo o de que mais ele necessitava, para compreender a ressonância de uma prece sincera no plano divino.


Manifestações dessa natureza não eram raras no Centro Cáritas, possibilitando sempre vibrações amorosas dos encarnados, protegidas pelos Mentores Espirituais, de maneira que essas forças ali chegavam para as sensibilizantes demonstrações de afeto e carinho.


Não foi somente como médium receitista e curador que Inácio Bittencourt grangeou a notoriedade, a estima e a admiração de todos, mas igualmente como médium apto a receber do Alto maravilhosa inspiração que, durante larga fase do seu mediunato, se manifestou notória e admirável, sempre que ele assomava às tribunas doutrinárias, principalmente à da Federação Espírita Brasileira, a cujas sessões de estudos comparecia com bastante assiduidade.


Embora não fosse dotado de cultura acadêmica, escrevia artigos doutrinários de forma surpreendente, e fazia uso da palavra em auditórios espíritas de forma bastante eloqüente. O simples fato de dirigir um jornal de grande penetração como o foi "Aurora", demonstra a fibra e o valor desse seareiro incomparável e incansável.


Com 80 anos de idade, retornou à patria espiritual, após lenta agonia. Dias antes da sua desencarnação, com a coragem e a serenidade de um justo, ditara para os seus familiares os termos do convite para os seus funerais: "A família Inácio Bittencourt comunica o seu falecimento. A pedido do morto, dispensam- se flores". Dona Rosa, sua bondosa companheira, ponderou: "Você amontoou flores na vida terrena, e essas flores virão agora engalanar a sua vida espiritual". O velho seareiro, dando, mais uma vez, prova admirável da capacidade de transigência do seu Espírito altamente evoluído, aquiesceu: "Está bem. Concordo com você e aceito as flores. Elas significarão a simpatia e o afeto de bondosos amigos para com o meu Espírito. Mas desejo que se transformem na derradeira homenagem que presto a você, nesta encarnação, ofertando- lhas logo após recebê-las. Nosso filho Israel se encarregará de proceder à oferenda".


Inácio Bittencourt foi um exemplo vivo de virtudes santificantes. A todos os golpes de malquerença e a todos os gestos de ofensa, sempre replicava com sorriso e perdão. Soube sempre ser tolerante e compreensivo para com aqueles que o criticavam. Levou sempre a assistência material e espiritual a todos aqueles que dela necessitavam, fazendo com que sua ação fecunda e benfazeja se baseasse sempre nos lídimos preceitos evangélicos, pois, como poucos, ele soube viver e praticar os ensinamentos do Meigo Rabi da Galiléia.


Falando com clareza e simplicidade, esforçou- se sempre em desvendar, para os seus semelhantes, o véu que oculta as verdades eternas que os homens chamam de mistérios divinos. Caminhou sempre sem protestos ou lamentações. Que a vida bem vivida desse grande propagador do Espistismo possa nos servir de bússola a fim de nos orientar nos momentos de vacilações e de tribulações.


As curas operadas através da mediunidade de Inácio Bittencourt foram das mais marcantes. Inúmeros casos, que eram considerados perdidos pela medicina oficial, foram resolvidos pela sua interferência, tornando- se assim um ponto de convergência para os sofredores de todos os matizes.

MENSAGEM - RESSONÂNCIA DO NATAL

Na paisagem fria e sem melhor acolhimento, a única hospedaria à disposição era a gruta modesta onde se guardavam os animais.
Não havia outro lugar que O pudesse receber.

O mundo, repleto de problemas e de vidas inquietas, preocupava-se com os poderosos do momento e reservava distinções apenas para os que se refestelavam no luxo, bem como no prazer.

Aos simples e desataviados sempre se dedicavam a indiferença, o desrespeito, fechando-lhes as portas, dificultando-lhes os passos.

Mas hoje, tudo permanece quase que da mesma forma.

Não obstante, durante aquela noite de céu transparente e estrelado, entre os animais domésticos, em uma pequena baia, usada como berço acolhedor, nasceu Jesus, que transformou a estrebaria num cenário de luzes inapagáveis que prosseguem projetando claridade na noite demorada dos séculos, em quase dois mil anos...

Inaugurando a era da humildade e da renúncia, Jesus elegeu a simplicidade, a fim de ensinar engrandecimento íntimo como condição única para a felicidade real.

O Seu reino, que então se instalou naquela noite de harmonias cósmicas, permanece ensejando oportunidades de redenção a todos quantos se resolvam abrigar nas suas dependências.

E o Seu nascimento modesto continua produzindo ressonâncias históricas, antes jamais previstas.

Homens e mulheres, que tomaram contato com Sua notícia e mensagem, transformaram-se, mudando-se-lhes o roteiro de vida e o comportamento, convertendo-se, a partir de então, em luzeiros que apontam rumos felizes para a Humanidade.

*

Guerreiros triunfadores passaram pelo mundo desde aquela época, inumeráveis.

Governantes poderosos estabeleceram reinos e impérios, que pareciam preparados para a eternidade, e ruíram dolorosamente.

Artistas e técnicos, de rara beleza e profundo conhecimento, criaram formas e aparelhagens sofisticadas para tornarem a Terra melhor, e desapareceram.

Ditadores indomáveis e aristocratas incomuns surgiram no proscênio terrestre, envergando posição, orgulho e superioridade, que o túmulo silenciou.

...Estiveram, por algum tempo, deixando suas pegadas fortes, que tornaram alguns odiados, outros rechaçados e sob o desprezo das gerações posteriores.

Jesus, porém, foi diferente.

Incompreendido, o Cantor do Amor aceitou a cruz, para não anuir com o crime, e abraçou a morte para não se mancomunar com os mortos.

Por isso, ressurgiu, em triunfo e grandeza, permanecendo o Ser mais perfeito que jamais esteve na Terra, como modelo que Deus nos ofereceu para Guia.

*

Quando a Humanidade experimenta dores superlativas, quando a miséria sócio-econômica assassina milhões de vidas que estertoram ao abandono; quando enfermidades cruéis demonstram a fragilidade orgânica das criaturas; quando a violência enlouquece e mata; quando os tóxicos arruínam largas faixas da juventude mundial, ao lado de outros males que atestam a falência do materialismo, ressurge a figura impoluta de Jesus, convidando à reflexão, ao amor e à paz, enquanto as ressonâncias do Seu Natal falam em silêncio: Ele, que tem salvo vidas incontáveis, pede para que tentes fazer algo, amando e libertando do erro pelo menos uma pessoa.

Lembrando-te dEle, na noite de Natal, reparte bondade, insculpe-O no coração e na mente, a fim de que jamais te separes dEle.

* * *

Franco, Divaldo Pereira. Da obra: Momentos Enriquecedores.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

BIOGRAFIA - FRANCISCO VALDOMIRO LORENZ

Às 13 horas de 24 de Maio de 1957, na cidade de Dom Feliciano (RS), Francisco Valdomiro Lorenz regressou à Pátria espiritual o nosso venerado Irmão, nascido na pequena aldeia de Zbislav, perto da cidade de Tcháslav, na Boêmia, no dia 24 de Dezembro de 1872, mas que adquiriu cidadania brasileira e aqui viveu como cidadão utilíssimo durante 64 anos de sua preciosa existência.

Filho de pais muito pobres, sem recursos para estudar nem meios de comprar livros, a imensa cultura de Lorenz não poderia ser compreendida sem a doutrina das encarnações sucessivas e da mediunidade superior. Ele chegou a possuir bem oitenta idiomas diferentes, do Ocidente e do Oriente, antigos e modernos, inclusive o velho sânscrito, do qual fez a maravilhosa tradução de “Bhagvad-Gitá “, em versos no mesmo ritmo original. Seu conhecimento da língua do antigo Egito lhe permitiu preparar um livro pasmoso para nossa Federação, intitulado --- “A Voz do Antigo Egito “.

Seu primeiro livro sobre Esperanto foi publicado na Boêmia, em 1890, com o título “Plena Lernolibro de Esperanto por Æe¶oj“. Logo depois de publicar esse compêndio, teve que deixar a pátria, onde suas idéias religiosas de espírita e seu ideal de política democrática eram coisas proibidas pelo Governo Imperial, católico e reacionário. Para comemorar o jubileu de ouro desse livro, os amigos do poeta fundaram em Santos (SP), no ano de 1940, o “Grupo Esperantista Francisco Valdomiro Lorenz“.

No Brasil, foi habitar em Dom Feliciano, no município de Encruzilhada do Sul, Rio Grande do Sul, onde tinha conhecidos. Vivendo num pequeno lugar, sem relações nos grandes centros, ser-lhe-ia impossível publicar um livro sobre Esperanto. Realmente, entre seu primeiro livro e o segundo decorreram 51 anos. Nesse meio tempo, escreveu em jornais e revistas e, em 1929, deu a público a importante obra - “Iniciação Lingüística “, que lhe granjeou grande autoridade a respeito de assuntos lingüísticos.

Só quando a FEB criou sua seção de edições em Esperanto, em 1937, abriu-se uma Editora para recomeçar ele sua missão espírita-esperantísta. Publicou-se então, em 1941, a coletânea de poemas traduzidos de 40 línguas diferentes, com o título “Diverskolora Bukedeto“ ; em 1942, sua tradução de “Bhagvad-Gitá“. Em 1944, apareceu a primeira coleção de poemas mediúnicos em Esperanto, com o título “Voæoj de Poetoj el la Spirita Mondo “, formado em grande parte por poesias recebidas pelo próprio Lorenz como médium, e outras por ele traduzidas de “Parnaso de Além-Túmulo“. O valor literário desse livro foi posto em relevo por “La Nica Literatura Revuo” , em seu número 5, de 1956, que transcreveu do livro dois poemetos como modelo de bela poesia.

Refez e permitiu fosse publicado sob seu respeitado nome o livro didático “Esperanto sem Mestre “, editado pela Federação Espírita Brasileira e que já conta inúmeras edições.

Sua última obra de Esperanto foi a “Antologio de Brazilaj Poetoj “, cujo manuscrito foi preparado a pedido da Liga Brasileira de Esperanto.
Em português publicou muitos livros interessantes.

A vida intelectual de Lorenz revelou desde a infância um Espírito de Alta Esfera, mas não só intelectualmente, foi um ideal que todos teremos que lutar por alcançar; moralmente, foi também um modelo e deu exemplos que viverão na lembrança das gerações.

Lorenz nunca poderá se esquecido.

Três dias antes da partida, um de nossos amigos recebeu do Rádio-Roma um pedido de notas biográficas para uma homenagem que o Rádio oficial da Itália lhe iria prestar, pelo fato de ser ele então o mais antigo esperantista vivo.

Esses dados foram logo remetidos por via aérea para o Sr. Luigi Minnaja, que dirigia o programa de Esperanto naquela grande estação de rádio. A revista oficial da Universala Esperanto-Asocio publicou, em seu número de Maio, que Lorenz era esperantista desde 1887, por isso a Rádio-Roma lhe prestaria aquela homenagem. Antes, porém, de ser irradiado o programa, já se havia transformado em homenagem póstuma.

BIOGRAFIA - FRANCISCO SPINELLI

Chegado ao Brasil em 1911, vindo da Itália, natural de Nápoles onde nasceu em 1893, Francisco Spinelli fixou residência, inicialmente em Vacaria - RS, fixando-se posteriormente em Bom Jesus - RS.

Como funcionário do Banco do Estado do Rio Grande do Sul e Prefeitura da cidade, ingressou no Espiritismo. Foi presidente do Centro Espírita Amor de Jesus e colaborador de Marcirio Cardoso de Oliveira na implantação e divulgação da doutrina de Kardec, na região serrana.

Grande orador e dotado de dinamismo invulgar, formou a Caravana de Divulgação que, em companhia de seu amigo Marcirio e do médium Jurê Varella e outros companheiros de doutrina, percorriam nos fins de semana os povoados dos campos de “Cima da Serra”, fundando núcleos familiares e disseminando a leitura das obras espíritas que conduziam em cargueiros sob o lombo de mulas. Foi numa dessas incursões que na localidade Princesa dos Campo - RS, na residência do agrimensor Vicente Acylino de Oliveira, fundou o Centro Espírita Alunos do Bem, denominação que o irmão Vicente, ao mudar residência para Caxias do Sul, com outros conterrâneos que também vieram, fundaram obra espírita com a mesma denominação.

Spinelli, por exigência profissional transferiu-se para a Capital em junho de 1946, passando desde então a integrar-se através de colaboração a várias sociedades espíritas de Porto Alegre, não tardando a ser eleito Presidente da Federação Espírita do Rio Grande do Sul e do movimento nacional.

E já de início, criou a Caravana da Fraternidade, percorrendo vários estados do país na propaganda da unificação da prática espírita, que culminou com a assinatura do Pacto Áureo, onde na qualidade de relator das conclusões do Congresso, desempenhou a incumbência com brilhantismo e competência, possibilitando a finalização do ato, em 05 de outubro de 1949, na Casa de Ismael, no Rio de Janeiro.

Na presidência da FERGS, incentivou as comemorações do centenário dos fenômenos de Hudeswille, confirmação da realidade medianímica que deu início a Codificação.

Criou a comissão para disseminar os Departamentos de Evangelização da Infância e da Juventude. Instituiu na FERGS o programa: “Em cada Centro Espírita uma Livraria”, hoje vitorioso idéia semeadora de luzes e conhecimento doutrinário.

Desencarnou em Porto Alegre em 07/08/1955.

MENSAGEM - Jesus, Psicólogo da Alma


Quem foi esse homem singular, capaz de viver numa época de poucas luzes, numa região de parcos recursos naturais atrativos, de comércio pouco promissor? Por que a escolha de nascer num povo que não apresentava experiências místicas transcendentes, como, por exemplo, na Índia ou na China? Seria talvez o fato da experiência vivida pelo sofrimento do cativeiro enfrentado no Egito e depois na própria Palestina, desta deita com os romanos? Será que ele considerava o sofrimento, a submissão e o desejo do encontro com Deus estados de espírito importantes para a recepção de sua mensagem? Qualquer que tenha sido o seu motivo pessoal, foi naquele povo sofrido, e numa sociedade eminentemente teocrática que ele escolheu trazer sua mensagem profunda e transformadora.

Sua escolha mudou a face do mundo ocidental muito mais do que da região onde ele viveu, em todos os sentidos. Mudou a religião, a economia, os costumes, a visão do mundo e da Vida, e, principalmente a percepção de Deus. A Terra não seria como hoje é sem sua mensagem vigorosa, endereçada ao coração humano. Não sabemos como estaríamos sem ela, porém com certeza teríamos a necessidade de conhecer alguma outra mensagem renovadora e libertadora. O mundo oriental, face à globalização das culturas, também sofreu e sofre a sua benéfica influência, ampliando seus horizontes psíquicos e sociais.

Nem sempre foi possível ao ser humano aplicar verdadeiramente e com equilíbrio os preceitos cristãos. Coletivamente prevaleceu durante muitos séculos, e ainda prevalecem, os interesses egoístas e materialistas. Sua aplicação tem sido mais social que interna. A mensagem vem sendo gradativamente compreendida e aplicada pelos cristãos, porém de forma muito lenta e com pouco compromisso com a transformação interior. Por não haver um centro diretor (ainda bem que não há), mas vários, o cristianismo vem se desenvolvendo de forma heterogênea, de acordo com o desenvolvimento particular de seus profitentes.

Esse é um dos motivos pelo qual creio ser imprescindível o investimento do cristão em si mesmo, no seu mundo psíquico, na sua vida psicológica e espiritual. Na compreensão de si mesmo e de seus processos internos.


De quem estamos falando?

De um homem espontâneo, aberto ao relacionamento, numa sociedade submetida a uma religião formal e legalizada, que ditava o certo e o errado, e que provocava o cidadão constantemente a se perguntar o que era lícito ou não fazer. Estamos falando do conhecedor da alma, psicólogo por natureza, senhor dos Espíritos, pois tinha a capacidade de falar direto à consciência, ao inconsciente, à psique, ao Espírito. Um homem realizado e centrado.

De um homem alegre e cheio de vida, sem preconceitos ou dificuldades para entender seu semelhante e ao mundo. De uma pessoa singular, sem ser arrogante e que vivia com e como sua cultura o ditava.

De um homem que agia naturalmente, sem máscaras, coerente e comprometido com sua missão. Capaz de levar às ultimas conseqüências aquilo em que acreditava. Um homem comum, nem, Deus nem semi-deus, nem mito e nem embusteiro. Um homem que, pela sua nobreza, foi utilizado, como todo missionário, como referencial de projeção de mitos e heróis, pela própria necessidade da sociedade.

De voz suave e firme, de olhar meigo e penetrante, de gestos suaves e decididos, semblante calmo e altivo, ele pregava sem impor, atingindo o coração do ser humano pela autoridade moral e pela sabedoria de que era portador.


Visão subjetiva das parábolas

Pode aplicar várias interpretações às parábolas do Cristo. Sempre que feitas com amor e para o amor, elas terão sentido. O conteúdo das parábolas e das suas entrelinhas é arque típico, portanto, comporta muitas interpretações, inclusive percepções aparentemente contraditórias. Tais diferentes percepções foram motivo de desavenças, por séculos, entre católicos e protestantes, ambos, intérpretes de uma mesma mensagem.

Seu sentido fundamental pertence à essência arque típica do ser humano, estando presente nas mais diversas culturas, filosofias e religiões. Na sua essência encontramos as mensagens do Bem, do Amor, do respeito à Vida, da busca do encontro consigo mesmo, da comunhão com Deus, as quais estão presentes na alma humana e nas manifestações culturais da humanidade.

O encontro do ser humano consigo mesmo, seu processo de auto-conhecimento, de auto-descoberta, de autotransformação, é a tônica dos ensinamentos das grandes religiões da humanidade. Tudo que se faz, tudo que se pensa, tudo que se escreve ou se sente, é feito em função do ser humano e para o ser humano. O ser humano não é só medida de todas as coisas, mas é também o sentido de todas as coisas.

O significado essencial da mensagem do Cristo é a busca do Si mesmo. É o ser humano na sua incessante preocupação de entender-se, de justificar sua própria existência. Se quiséssemos resumir a mensagem dele, poderíamos dizer que seu objetivo é reestruturação psicológica do ser humano em vistas à própria evolução.

Seguir ao Cristo, portanto, é vivenciar sua mensagem na vida íntima, familiar e social. É viver sua própria vida como ele viveu a dele. É descobrir-nos em meio às influências coletivas que nos levam apenas para fora de nós mesmos.

Sua mensagem se destina à alma dotada de razão, emoção e intuição. Não se dirige apenas a um grupo de seguidores ou ao estabelecimento de uma casta de adeptos e crentes. Impregnar a mensagem do Cristo no coração humano não quer dizer a instituição de uma religião com adeptos e fiéis ortodoxos que vivem em seu nome. Mas a transformação de pessoas que encontraram o sentido real de suas vidas e se dispõem a vivê-lo externa e internamente.


A psicoterapia do Cristo

A psicoterapia aplicada pelo Cristo era a sua própria personalidade. Impunha-se pelo exemplo e pela autoridade moral. Não trouxe um método ou uma técnica padronizada de busca ou de cura, como se lidasse com máquinas. A cada um de acordo com suas necessidades evolutivas. Agia com firmeza quando o momento exigisse, com brandura quando a situação comportasse e com silêncio quando o assunto não merecesse palavras.

Sua personalidade superior exalava amor e equilíbrio. Sua presença derramava fluidos curadores no ambiente. Quem com ele manteve contato nunca mais foi o mesmo. Ele curava e provocava reflexões íntimas naturalmente. Estar em sua presença significava ter que refletir sobre os mesmo. Ele tocava a alma.

Ele não deve ser tomado como um psicólogo comum. Sua técnica não está mencionada nos livros das academias, principalmente pela inexistência de um padrão de atendimento às pessoas que o procuravam. A um questionamento, devolvia com outro, o que obrigava o interlocutor a perceber seu próprio processo.

Não julgava nem criticava, mas levava o outro a perceber-se e a enxergar-se, não apenas no comportamento social, mas, principalmente, na sua consciência. Infalível técnica de colocar-se diante do outro como um espelho neutro, que deve refletir aquilo que lhe é mostrado. Se havia alguma, essa era a técnica.

Sua mensagem portanto, além de levar-nos a uma conduta social harmônica, convida-nos inadiavelmente a iniciarmos uma auto-análise e uma autocrítica. Mais do que viver bem em sociedade, ela os conduz a viver em paz com nossa própria consciência, examinando-a constantemente.

A psicologia adotada pelo Cristo é sempre atual, pois penetra as raízes do Espírito. Não é uma psicologia fisiológica ou mentalista, mas baseada na subjetividade da psique humana. Uma subjetividade não inferida, mas auto-percebida e auto-sentida. Qualquer entendimento que tenhamos da psicologia, isto é, qualquer escola que se adote, a interpretação da mensagem poderá ser feita sem prejuízo de sua essência. É uma psicologia profunda e transformadora. Leva-nos à compreensão da necessidade de mudança e renovação. Quem entra em contato real com sua mensagem exige-se transformação. Obriga-se a uma revisão de valores internos. Aqueles comportamentos que antes se davam por imposições sociais, passam a ocorrer por um sentido íntimo de consciência superior da Vida.

O cristão não muda por ser cristão, mas por compreender um sentido e um objetivo de Vida. A partir dessa percepção, dizer-se cristão, isto é, rotular-se é secundário, não essencial e dispensável.

É uma psicologia para o corpo e para o Espírito. Compreende a vida consciente e a inconsciente. Ela não exige o corpo perfeito nem o corpo sadio, mas o corpo respeitado e bem cuidado. Respeitado nos seus limites e nas suas deficiências. Bem cuidado pela busca constante em colocá-lo o mais apto possível ao bom desempenho nas experiências que a vida exige. Para o Espírito, por dirigir-se diretamente a ele, a quem cabe o cuidado com o corpo, seu instrumento de percepção do mundo consciente.


Características da mensagem do Cristo

Sua mensagem transformadora e educativa é portadora de alegria e amorosidade. Aquele que sente a mensagem do Cristo mostra sua alegria interior nos a tos mais simples da vida. Sua vivência não é uma demonstração para que o vejam, pois é dirigida para o interior de si mesmo. Ela é vivida de forma natural, espontânea, sincera e sadia. Nos seus momentos de irritação, ele não permite que a alegria interior seja subtraída por muito tempo. Indigna-se porém não perde o objetivo do seu estado de espírito natural. Permite-se a contrariedade, porém logo se refaz.

Sua mensagem é preventiva e curativa. É um código de ética espiritual e de felicidade pessoal. O cristão sincero sabe que vivenciar a mensagem o prepara melhor para muitos males e aflições, com os quais naturalmente terá que aprender a viver. Pensar e sentir como um verdadeiro cristão coloca-nos em contato com o mais alto código de Vida, trazendo-nos paz e felicidade. O máximo de felicidade alcançada na Terra.

Seu exercício e sua vivência colocam o ser humano em contato com as forças superiores do universo. Os Bons Espíritos naturalmente procurarão intuir, para as mais nobres missões, aqueles que vivenciam sinceramente as mensagens do Cristo. A mediunidade intuitiva será a forma mais comum de captação das benéficas influências com o Mundo Espiritual Superior, para aqueles que sinceramente vivenciarem a mensagem do Cristo.

A mensagem do Cristo tem sido divulgada concitando as pessoas à fraternidade, à solidariedade, à comunhão, à consolação, à ajuda mútua e à assistência recíproca. Deve também ser vista como poderosa força de transformação e de vontade de mudança pessoal. Verdadeira alavanca para a motivação e a movimentação da energia que impulsiona o ser humano a viver, também conhecida pelo nome de energia psíquica.

Allan Kardec escreveu que a mensagem endereçada pelo Cristo é um "roteiro infalível para a felicidade". É "uma regra de proceder que abrange todas as circunstâncias da vida privada e da vida pública, o princípio básico de todas as relações sociais que se fundam na mais rigorosa justiça." De fato, é uma regra de proceder na vida pública (norma externa) como também na vida privada (norma interna). Quando a norma interna alcança o patamar em que o indivíduo atinja espiritualidade nas suas atitudes, ele será capaz de fazê-lo viver externamente bem na sociedade.

Alcançar espiritualidade é viver consciente da imortalidade da alma, compreender as atitudes humanas, respeitando inclusive os equívocos do outro, agir com calma e equilíbrio diante de situações adversas, ter fé e esperança num mundo melhor, utilizar-se da razão e do sentimento na análise das situações, confiar na presença dos Bons Espíritos em sua vida, buscar o crescimento pessoal e ocupar-se em proporcionar que outros o façam, agir para com o próximo da mesma forma que gostaria que agissem consigo, dentre outras atitudes.

A mensagem do Evangelho nos convida à busca da alegria além do prazer efêmero. Eleva-nos a alma além das circunstâncias materiais, dando um sentido (objetivo) para a Vida. Um sentido espiritual, que vale para o além, para a eternidade, para o aquém e para o presente. Como mensagem crista, o Espiritismo traz um conteúdo que deve nos levar à felicidade, como um estado de espírito, ainda enquanto encarnados. Os princípios espíritas devem ser perseguidos para utilização aqui e não apenas no além. Vivê-los no presente, para o presente, conseqüentemente para o futuro.

Podemos observar que os primeiros cristãos, face ao fulgor que brotava da essência da mensagem, por muitos séculos, ante ela, permaneceram admirados e em êxtase. Buscavam vivê-la sem consciência de sua transcendência e magnitude. Isso ocorreu durante os primeiros séculos depois de Cristo. Mais tarde, já refeitos do primeiro impacto, politizaram e racionalizaram a mensagem. Transformaram-na em religião do Estado, oficial e obrigatória. O que ainda perdura até hoje, porém sem obrigatoriedade inicial. Em paralelo a estes, por muitos séculos também, apareceram os sectários e inquisidores que transformaram a mensagem em instrumento de punição e terror, agindo frontalmente contra sua essência de amor e paz. Logo depois, em oposição aos anteriores, surgiram os questionadores e reformadores que buscavam depurar a mensagem, porém deixando ainda marcas que a manchavam. Protestaram, provocando reações contrárias que fomentaram guerras que ainda ocorrem em nossos dias. Com o advento do Espiritismo podemos notar o surgimento de uma quinta e última geração de cristãos, preocupados em viver plenamente a mensagem, Estes últimos, embora, às vezes, apresentem as mesmas tendências das outras gerações, até porque são os mesmos que retornam pela reencarnação, se perseguirem o propósito de aplicarem-na a si mesmos, alcançarão a iluminação apregoada pelo Cristo.

A mensagem crista, e, portanto, a espírita, pela sua capacidade de alcançar o consciente e, principalmente, o inconsciente humano, permite que a vida seja vista de um ponto de vista mais claro e menos pesado para o Espírito. O Espiritismo é uma doutrina leve e suave que faz com que os conflitos e problemas das pessoas sejam encarados da mesma forma.

Além de outros objetivos superiores, creio que a mensagem do Evangelho contém o propósito de que o ser humano alcance espiritualidade, também enquanto encarnado.


Autor: Adenáuer Novaes (Do Livro "Psicologia do Evangelho")