quinta-feira, 9 de outubro de 2008

ARTIGO: "A maledicência nossa de cada dia"

A Maledicência nossa de cada dia
Vinícius Lousada


"Ó homens! Quando será que julgareis os vossos próprios corações, os vossos próprios pensamentos, os vossos próprios atos, sem vos ocupardes com o que fazem vossos irmãos? Quando só tereis olhares severos sobre vós mesmos"
- José, Espírito Protetor


Aos cristãos não é novidade a idéia de se combater a maledicência porque ela não se coaduna com os deveres sagrados da caridade e o apóstolo Tiago já alertava aos seus companheiros sobre o veneno mortífero da língua indisciplinada, concitando-os: "Irmãos, não faleis mal uns dos outros."

Hábito realmente infeliz que derrama a inferioridade moral da criatura que o realiza sempre que surge a oportunidade. É um ácido que consome as pessoas e suas relações instalando a desconfiança entre os indivíduos e grupos; edificando um clima de cinismo nos ambientes onde se desenvolva, resultando no uso da falsidade e da hipocrisia, pela insegurança que gera nas expectativas que as pessoas depositam umas nas outras.

Essa deformidade do espírito consegue alastrar-se aceleradamente porque o assunto em pauta, nas falas maledicentes, é cercado de incertezas que se faz o "impossível" para deixar-se no ar, a fim de que seus autores não se comprometam e consigam manchar o nome daquele que é o alvo do comentário infeliz, pelos motivos mais ignóbeis que possamos imaginar. Assim é que o maledicente lança as suspeitas sobre a conduta dos outros, fala deles como se alguém lhe tivesse outorgado o direito de julgar a vida do próximo, estabelecendo um puritanismo medíocre que mal camufla recalques interiores.

Então, podemos anotar a praga da maledicência em variadas situações do nosso cotidiano. A identificamos quando o companheiro de profissão se preocupa em destacar as deficiências de outro, que "por acaso" tem se destacado mais que ele; também apresenta-nos quando aquelas pessoas frustradas na vida pessoal, que fazem uma apologia infundada à indigência - material e até intelectual - reclamam sistematicamente (ou nas entrelinhas) dos "mais dotados", desconsiderando que os últimos, muito suaram para adquirir esta ou aquela peça de vestuário ou para conquistar o diploma que lhes habilitaram ao nobre exercício de uma profissão.

É tão estranha a conduta maledicente, que nos faz recordar o adágio que diz "quem desdenha quer comprar", o que eqüivale dizer que o alvo do maledicente parece ser item de sua cobiça, de seu desejo de conquista sem trabalho, por ser alguém ocioso, dado a matar o tempo policiando aos outros. O que acontece é que, por serem pessoas "que se sentem incapazes de chegar à altura em que aquele se encontra esforçam-se para rebaixá-lo, por meio da difamação, da maledicência e da calúnia; tanto mais forte gritam, quanto menores se acham, crendo que se engrandecem e o eclipsam pelo ruído que promovem."

Sem querer fazer extensa caracterização da maledicência, podemos dizer que ela pode ser graduada do comentário menos digno até as armações bem urdidas por quem usa da mentira, mesmo que isso gere sofrimento nas vidas que atinge.

Parece-nos que para nós espíritas, que procuramos nossa identificação com o Mestre Jesus, através da nossa transformação moral, é importante identificarmos a raiz desse flagelo, a fim de que venhamos vencê-lo. Aliás, cabe aqui uma lembrança: o espírita nunca faz fofoca, sua fala é sempre "um comentário construtivo" para o bem geral, e que comentário hein? As vezes, sabe Deus onde vai parar... Reconheçamos, sem hipocrisia, que embora sejamos espíritas não somos ainda uma flor de perfeição.

Allan Kardec, ao realizar um estudo geral sobre os caracteres dos Espíritos, que chamou de Escala Espírita, anota na ordem dos Espíritos Imperfeitos - aqueles que fazem do mal o objeto de suas preocupações -, a sua décima classe, a dos Espíritos Impuros, destacando suas características quando encarnados como sendo: "(...)a sensualidade, a crueldade, a felonia, a hipocrisia, a cupidez, a avareza sórdida. (...)"

Desse modo, verificamos que a maledicência está, sem sombra de dúvida, radicada na inferioridade evolutiva do ser que a produz, precisando ser combatida através do auto - conhecimento e da renovação interior, caso queiramos galgar passos positivos em nossa evolução. Tal intento somente pode acontecer pelo exercício insistente da caridade, que neste caso, pode ser efetuada pelo uso da indulgência em relação aos outros.

São os Espíritos Superiores que nos recomendam: "(...)sede severos para convosco, indulgentes para com as fraquezas dos outros; é ainda uma prática da santa caridade que bem poucas pessoas observam (...)." Eles nos apontam assim, o caminho da austeridade em relação a nós mesmos, na disciplinada melhora moral e no trabalho redentor, de tal forma que venhamos a olhar com bondade as imperfeições, as atitudes menos dignas de nossos irmãos; porque crer-nos superiores aos outros, investidos do direito de os julgarmos e lhes endereçarmos normas de conduta, seria indício de orgulho e total insensatez, pois bem sabemos que todos possuímos más tendências a vencer.

Irmãos, não podemos ser tão infelizes ao ponto de não aproveitarmos a luz que a Doutrina Espírita nos traz, precisamos abandonar os comportamentos farisaicos que nutrimos por esses séculos a fora, substituindo-os por atitudes mais evangelizadas, mais coerentes com a nossa proposta de fé raciocinada, de modo que possamos ser realmente cristãos, fraternos, justos e solidários uns com os outros, evitando-se a satisfação mórbida de cuidar da vida alheia, quando mal damos bom rumo à nossa.

É indispensável, nesse exercício de banir o hábito de falar mal dos outros, que nos espiritizemos por dentro, negando-nos a fazer "análises" das ações de nossos companheiros de jornada ou propondo regras comportamentais com base em nossa maneira obliqua de ver o mundo. Somos convidados sim, a contribuir com o progresso geral, mas não salvando os outros através da violência de nosso verbo menos são. A contribuição que a vida nos pede, por já sabermos das verdades espirituais, consiste em darmos o exemplo digno dos que são felizes porque conhecem Jesus através do Espiritismo e "(...) aproveitam os salutares ensinamentos dos Espíritos do Senhor! (...)"

O Livro dos Espíritos, questão 102.
O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. X, item 18.
Idem.

BIOGRAFIA - JOÃO FUSCO

João Fusco, mais conhecido por Jofus, nasceu na cidade de Araraquara, Estado de São Paulo, no dia 1o. de junho de 1895, e desencarnou em S. Paulo, com 50 anos de idade a 6 de julho de 1945.

Filho de pais humildes e católicos, viveu a maior parte de sua infância e mocidade na cidade de Araraquara, casando- se no ano de 1910, com d. Regina Pavezi Fusco. Fez ainda nessa mesma cidade os cursos primário e de Contabilidade e, mais tarde, em S. Paulo, estudou Ciências Econômicas. Era profundo conhecedor de Direito e História. Possuía marcante inteligência e uma personalidade moral que causava assombro a todos que com ele conviviam.

João Fusco tornou- se espírita na cidade de Rio Preto, no longínquo ano de 1929, após ler alguns livros sobre Espiritismo. O que contribuiu decididamente para a sua conversão foi a cura, por seu intermédio, de uma senhora doente, após ter ela sido desenganada por médicos, padres, pastores e curandeiros.

A partir dessa época tornou- se profundo estudioso das obras da Codificação Kardequiana. O Centro Espírita "Allan Kardec", da cidade de S. José do Rio Preto, foi o marco inicial de uma nova era na vida de João Fusco, pois os dirigentes daquela instituição, vendo nele um homem culto, estudioso, enérgico e moralista, resolveram entregar- lhe a direção do Centro.

Jofus reorganizou vários Centros Espíritas do Estado de S. Paulo e do Triângulo Mineiro, instituindo a escrituração, elaboração de estatutos, quadro associativo, bibliotecas, venda e distribuição de livros, jornais e revistas espíritas. Instalou cursos de Evangelização da Infância, de estudos de "O Livro dos Espíritos", de alfabetização de adultos e crianças, de oratória e de desenvolvimento mediúnico, tornando- se mesmo um pioneiro na implantação das escolas espíritas.

Encetou numerosas viagens pelos Estados de S. Paulo e Minas Gerais, proferindo palestras, distribuindo livros e folhetos de sua autoria, numa lídima campanha contra os conspurcadores da Doutrina Espírita. Em 1931 travou conhecimento pessoal com Caírbar Schutel, passando a manter estreito contacto com o apóstolo de Matão, em tudo aquilo que dizia respeito à difusão do Espiritismo, formando- se mesmo o eixo Matão - S. José do Rio Preto, na obra de esclarecimento e de combate aos pseudos cristãos.

Entre os escritos de João Fusco podemos destacar os folhetos "O Anticristo", "Os Violadores da Lei", "Desfazendo Calúnias do Clero Romano", "Advertências", "Falsos Profetas", "Contrastes", "Aviso aos Incautos", "Deus", "Os Centros e suas Denominações", "Escola Nova", "Os Mortos Vivos", e outros.

Em 1933 transferiu sua residência para S. Paulo e, nessa cidade, prosseguiu sua tarefa persistente em favor da disseminação do Espiritismo. Recebia diariamente volumosa correspondência vinda de pessoas que demandavam o consolo espiritual, conselhos e orientação para a cura do corpo e da alma.

Jofus possuía várias faculdades mediúnicas, dentre as quais a vidência, audição, curas e transporte. Há uma enorme bagagem de feitos benéficos efetuados por intermédio desse saudoso companheiro, durante a sua permanência entre nós, notadamente no período de 1929 a 1945.

Espírito varonil, comunicativo, afável para com todos, a sua palavra consolava sobremaneira. Todos sentiam- se bem em sua presença. Situava a Doutrina dos Espíritos acima de tudo e era intransigente no cumprimento dos seus deveres cristãos.

Em 30 de janeiro de 1939 fundou no bairro do Itaim, na Capital do Estado de S. Paulo, o primeiro Centro Espírita a prestar homenagem ao apóstolo de Matão, dando- lhe o nome de Centro Espírita Caírbar Schutel. Foi ainda fundador de outras sociedades espíritas, dentre elas o Centro Espírita Ismael, em Vila Guarani, na mesma cidade, fato ocorrido no dia 30 de junho de 1940.

O efeito de sua obra ainda hoje se faz sentir e sua amplitude não pode ser descrita numa pequena súmula biográfica.

BIOGRAFIA - JOSÉ PETITINGA


Nascido no dia 2 de dezembro de 1866 e desencarnado a 25 de março de 1939.

Cabe a José Florentino de Sena, mais conhecido por José Petitinga, a glória de fazer Espiritismo organizado no Estado da Bahia, tornando- se um dos espíritas de maior projeção naquele Estado.

Consta que freqüentara e abandonara, em sua mocidade, por falta de recursos econômicos, um curso acadêmico. Era, no entanto, um homem dotado de sólida cultura geral, sendo notáveis suas lides jornalísticas, literárias e espíritas. Na qualidade de poeta, jornalista, contabilista e lingüista, era sobejamente estimado em sua época; como sertanista sabia recolher da Natureza virgem os grandes ensinamentos da vida. Grande conhecedor da nossa flora medicinal, jamais regateava a sua terapêutica de emergência a quantos dele se socorriam nas muitas viagens que fazia ao longo do Rio São Francisco.

Era zeloso cultor do vernáculo, ao ponto de merecer de César Zoma -- político, latinista e orador baiano, a seguinte afirmação: "Não Bahia, em conhecimentos de latim, eu, e de português, o Petitinga".

Com 21 anos de idade leu "O Livro dos Espíritos", e ulteriores estudos e perquirições levaram- no a fundar, na cidade de Juazeiro, o "Grupo Espírita Caridade", onde foram recebidas, através do conceituado médium Floris de Campos Neto, belas e incentivadoras mensagens da entidade espiritual que assinava "Ignotus".

Indo, em 1912, para a cidade do Salvador, Petitinga reviveu em sua residência, o "Grupo Espírita Caridade", aí reunindo companheiros realmente dedicados à Doutrina dos Espíritos e isentos do personalismo desagregador. Convidado, logo após, a participar do "Centro Espírita Religião e Ciência", que passava por uma fase de declínio, ele tudo fez para restaurá-lo. Mesmo com os poderes extraordinários que a Assembléia Geral lhe outorgou, tudo foi em vão.

Notando que a decadência daquela sociedade se devia em parte à falta de unidade doutrinária, à ausência de uma direção geral, Petitinga pensou, então, em fundar uma sociedade orientadora do movimento espírita no Estado, o que conseguiu materializar no dia 25 de dezembro de 1915, quando, em histórica reunião realizada na sede do "Grupo Espírita Fé, Esperança e Caridade", instalou a UNIÃO ESPÍRITA BAIANA, hoje transformada em Federação Espírita do Estado da Bahia.

No início a União Espírita Baiana não tinha sede em lugar definido, transferindo- se várias vezes de local, até que nasceu, cresceu e vingou a idéia da aquisição de sede própria, tão necessária à tranqüilidade dos dirigentes daquele movimento divulgador do Espiritismo. Em 4 de julho de 1920, a Diretoria recebia plenos poderes para trabalhar naquela direção e, em 3 de outubro do mesmo ano, foi solenemente inaugurada a sede própria situada no histórico Terreiro de S. Francisco (hoje Praça Padre Anchieta n.o. 8), onde funciona até o presente.

José Petitinga nasceu na fazenda denominada "Sítio da Pedra", margem direita do Rio Paraguaçu, termo de Monte Cruzeiro, Comarca de Amargosa, no Estado da Bahia, e desencarnou na cidade de Salvador. Era filho de Manoel Antônio de Sena e Maria Florentina de Sena.

Foi casado em primeiras núpcias com Francisca Laura de Jesus Petitinga (29 de novembro de 1895), da qual ficou viúvo em 1903 e com quem teve 7 filhos, três dos quais falecendo ainda em tenra idade. Casou-se novamente em 11 de fevereiro de 1906 com Maria Luiza Petitinga, sem filhos deste novo consórcio.

Ainda pequeno, em sua cidade natal, passou a trabalhar numa casa comercial, tão logo terminou o curso primário. Assim, aos 11 anos apenas, emprega-se com o comerciante Francisco Torquato Barreto, de quem granjeou a confiança aprendendo os serviços contábeis, dos quais tornou-se encarregado.

Jornalista com brilhante atuação em diversas publicações da época, poeta elogiado por Sílvio Romero, Múcio Teixeira, Teotônio Freire e outros literatos de renome, orador fluente e ilustrado, José Petitinga se constituiu de direito e de fato, o centro de convergência do movimento espírita naquele Estado, que teve as primícias da propaganda doutrinária em nosso país. Sua figura, misto de humildade e austeridade, tornou- se popular naquela velha capital, infundindo respeito e consideração até aos próprios adversários da Doutrina Espírita.

São de sua autoria os livros de poesias "Harpejos Vespertinos", "Madressilvas" e "Tonadilhas", obras essas que mereceram grandes elogios de vários jornais importantes da época, inclusive do "Jornal do Comércio", do Rio de Janeiro. O nome Petitinga foi usado como pseudônimo, nos primeiros artigos que escreveu, para fugir à censura paterna e de seus patrões, que não admitiam que um rapazola se metesse em lutas políticas, desafiando com sua preclara inteligência tradicionais políticos da época. Colaborou assiduamente em vários jornais e publicações de Nazaré, Amargosa, Juazeiro, Salvador e outras cidades.

Em face da popularidade do pseudônimo, pelo qual passou a ser conhecido em todo o mundo, resolveu adotá-lo como sobrenome, em substituição ao "Florentino de Sena", fazendo, para tanto, declaração pública através de Cartório.

José Petitinga, exemplo fiel de perseverança e trabalho, presidiu a União Espírita Baiana até a data da sua desencarnação, dando tudo de si -- material e espiritualmente -- para o engrandecimento daquela tradicional instituição e para a difusão do Espiritismo naquele grande Estado brasileiro.