Vinícius Lousada "Ó homens! Quando será que julgareis os vossos próprios corações, os vossos próprios pensamentos, os vossos próprios atos, sem vos ocupardes com o que fazem vossos irmãos? Quando só tereis olhares severos sobre vós mesmos" - José, Espírito Protetor Aos cristãos não é novidade a idéia de se combater a maledicência porque ela não se coaduna com os deveres sagrados da caridade e o apóstolo Tiago já alertava aos seus companheiros sobre o veneno mortífero da língua indisciplinada, concitando-os: "Irmãos, não faleis mal uns dos outros."
Hábito realmente infeliz que derrama a inferioridade moral da criatura que o realiza sempre que surge a oportunidade. É um ácido que consome as pessoas e suas relações instalando a desconfiança entre os indivíduos e grupos; edificando um clima de cinismo nos ambientes onde se desenvolva, resultando no uso da falsidade e da hipocrisia, pela insegurança que gera nas expectativas que as pessoas depositam umas nas outras.
Essa deformidade do espírito consegue alastrar-se aceleradamente porque o assunto em pauta, nas falas maledicentes, é cercado de incertezas que se faz o "impossível" para deixar-se no ar, a fim de que seus autores não se comprometam e consigam manchar o nome daquele que é o alvo do comentário infeliz, pelos motivos mais ignóbeis que possamos imaginar. Assim é que o maledicente lança as suspeitas sobre a conduta dos outros, fala deles como se alguém lhe tivesse outorgado o direito de julgar a vida do próximo, estabelecendo um puritanismo medíocre que mal camufla recalques interiores.
Então, podemos anotar a praga da maledicência em variadas situações do nosso cotidiano. A identificamos quando o companheiro de profissão se preocupa em destacar as deficiências de outro, que "por acaso" tem se destacado mais que ele; também apresenta-nos quando aquelas pessoas frustradas na vida pessoal, que fazem uma apologia infundada à indigência - material e até intelectual - reclamam sistematicamente (ou nas entrelinhas) dos "mais dotados", desconsiderando que os últimos, muito suaram para adquirir esta ou aquela peça de vestuário ou para conquistar o diploma que lhes habilitaram ao nobre exercício de uma profissão.
É tão estranha a conduta maledicente, que nos faz recordar o adágio que diz "quem desdenha quer comprar", o que eqüivale dizer que o alvo do maledicente parece ser item de sua cobiça, de seu desejo de conquista sem trabalho, por ser alguém ocioso, dado a matar o tempo policiando aos outros. O que acontece é que, por serem pessoas "que se sentem incapazes de chegar à altura em que aquele se encontra esforçam-se para rebaixá-lo, por meio da difamação, da maledicência e da calúnia; tanto mais forte gritam, quanto menores se acham, crendo que se engrandecem e o eclipsam pelo ruído que promovem."
Sem querer fazer extensa caracterização da maledicência, podemos dizer que ela pode ser graduada do comentário menos digno até as armações bem urdidas por quem usa da mentira, mesmo que isso gere sofrimento nas vidas que atinge.
Parece-nos que para nós espíritas, que procuramos nossa identificação com o Mestre Jesus, através da nossa transformação moral, é importante identificarmos a raiz desse flagelo, a fim de que venhamos vencê-lo. Aliás, cabe aqui uma lembrança: o espírita nunca faz fofoca, sua fala é sempre "um comentário construtivo" para o bem geral, e que comentário hein? As vezes, sabe Deus onde vai parar... Reconheçamos, sem hipocrisia, que embora sejamos espíritas não somos ainda uma flor de perfeição.
Allan Kardec, ao realizar um estudo geral sobre os caracteres dos Espíritos, que chamou de Escala Espírita, anota na ordem dos Espíritos Imperfeitos - aqueles que fazem do mal o objeto de suas preocupações -, a sua décima classe, a dos Espíritos Impuros, destacando suas características quando encarnados como sendo: "(...)a sensualidade, a crueldade, a felonia, a hipocrisia, a cupidez, a avareza sórdida. (...)"
Desse modo, verificamos que a maledicência está, sem sombra de dúvida, radicada na inferioridade evolutiva do ser que a produz, precisando ser combatida através do auto - conhecimento e da renovação interior, caso queiramos galgar passos positivos em nossa evolução. Tal intento somente pode acontecer pelo exercício insistente da caridade, que neste caso, pode ser efetuada pelo uso da indulgência em relação aos outros.
São os Espíritos Superiores que nos recomendam: "(...)sede severos para convosco, indulgentes para com as fraquezas dos outros; é ainda uma prática da santa caridade que bem poucas pessoas observam (...)." Eles nos apontam assim, o caminho da austeridade em relação a nós mesmos, na disciplinada melhora moral e no trabalho redentor, de tal forma que venhamos a olhar com bondade as imperfeições, as atitudes menos dignas de nossos irmãos; porque crer-nos superiores aos outros, investidos do direito de os julgarmos e lhes endereçarmos normas de conduta, seria indício de orgulho e total insensatez, pois bem sabemos que todos possuímos más tendências a vencer.
Irmãos, não podemos ser tão infelizes ao ponto de não aproveitarmos a luz que a Doutrina Espírita nos traz, precisamos abandonar os comportamentos farisaicos que nutrimos por esses séculos a fora, substituindo-os por atitudes mais evangelizadas, mais coerentes com a nossa proposta de fé raciocinada, de modo que possamos ser realmente cristãos, fraternos, justos e solidários uns com os outros, evitando-se a satisfação mórbida de cuidar da vida alheia, quando mal damos bom rumo à nossa.
É indispensável, nesse exercício de banir o hábito de falar mal dos outros, que nos espiritizemos por dentro, negando-nos a fazer "análises" das ações de nossos companheiros de jornada ou propondo regras comportamentais com base em nossa maneira obliqua de ver o mundo. Somos convidados sim, a contribuir com o progresso geral, mas não salvando os outros através da violência de nosso verbo menos são. A contribuição que a vida nos pede, por já sabermos das verdades espirituais, consiste em darmos o exemplo digno dos que são felizes porque conhecem Jesus através do Espiritismo e "(...) aproveitam os salutares ensinamentos dos Espíritos do Senhor! (...)" O Livro dos Espíritos, questão 102. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. X, item 18. Idem.
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