quarta-feira, 30 de setembro de 2009

FILME CHICO XAVIER: 08/agosto


Chegadas e partidas


O set hoje tem chegadas e partidas… Voltam ao estúdio Tony Ramos e Christiane Torloni – que rodaram uma única cena, no primeiro dia de filmagem, em 29 de junho. A atriz Laura Cardoso faz uma passagem-relâmpago – e iluminada – pelo set, em participação especialíssima. E se despede de Chico Xavier a professora de prosódia Babaya – que, com Cynthia Falabella, preparou o elenco para que o mineirês soe natural e espontâneo.

Mas Babaya fez mais do que isso. Amiga pessoal do ator Luís Mello – que a indicou para a prosódia de Chico –, a mineira de Cássia é cantora, professora de técnica vocal, tem uma escola de canto em Belo Horizonte e trabalha muito com teatro (há mais de 20 anos com o Grupo Galpão, por exemplo). Em Chico Xavier, se Cynthia preparou Matheus Costa para viver Chiquinho, Babaya, além de aprimorar o sotaque dos atores, foi a responsável pela unidade de timbre e tom entre Ângelo Antônio e Nelson Xavier. “Costumo dizer que o sotaque é o produto final de todo o meu trabalho. O que queríamos fazer, e conseguimos, foi trabalhar a intenção do texto, o que há por trás do que eles vão dizer. Tudo isso resulta em um sotaque natural, intuitivo”, explica. Por isso, Babaya prefere chamar seu trabalho de direção de texto.

Além do profissionalismo, Babaya cativou a equipe com seu jeito suave, discreto e gentil. Quando não estava trabalhando com seus atores, ficava quietinha em um canto do set fazendo palavras cruzadas. Sempre sorrindo. Hoje, apesar de ser seu último dia, preferiu não se despedir. “Quem sabe ainda precisam de mim em ‘edição extraordinária’…”, diz.


A professora de prosódia Babaya passa o texto com Nelson, em sua despedida de ‘Chico Xavier’ (fotos de Ique Esteves)




Christiane e Tony voltam ao filme para a fase “anos 70”. Antes de entrar no cenário da Herbert Richers, Christiane e parte da equipe rumaram para o hospital Ordem Terceira do Carmo, pertinho dali, para uma cena rápida, mas muito emocional. E quando se reuniu com Tony, na sala maquiagem do estúdio, o “casal” no filme aproveitou para passar o texto da primeira cena. Que é só a primeira: daqui pra frente, serão muitas cenas com os dois.

Pouco mais tarde, chega Laura Cardoso, para uma participação especialíssima: sua personagem, Vera Alves, é uma junção de duas atrizes, Vida Alves e Vera Nunes. “E Laura Cardoso também”, acrescenta a atriz, que foi contemporânea das homenageadas, tendo trabalhado juntas na antiga TV Tupi de São Paulo.

Laura Cardoso posa diante de sua foto na parede do cenário onde gravou





As seis cenas de hoje se passam, justamente, nos corredores de uma estação de TV. Nos corredores, fotografias antigas de grande nomes da televisão brasileira, como Eva Wilma, Carlos Zara, Gianfrancesco Guarnieri, John Herbet, Luís Gustavo e… Laura Cardoso. “A-mei!!”, grita Laura, ao ver suas duas fotos no set. “Eu era linda, uma graça!”, vibra a atriz que, ao andar pelo corredor cenográfico, mostrou-se saudosa. “O cenário está perfeito, era assim mesmo”, lembra.

Mas para ficar perfeito, os cenotécnicos tiveram trabalho. E o início da filmagem atrasou. A demora aconteceu por conta de uma junção de fatores, que devem ser estrategicamente conjugados para se encaixarem no tempo certo. Mas por uma mudança no plano de filmagem, alguns destes fatores tiveram que ser antecipados – o que gerou o atraso.

Daniel dirige Tony Ramos nos corredores da `Tv Tupi`, observado pelo diretor de fotografia Nonato Estrela, o chefe da maquinaria Vô Du e o operador câmera Gil Otero








O tempo de espera para Daniel, Christiane Torloni e Tony Ramos (Laura só chegou à tarde) foi recompensado por um bom papo. Os temas: as gravações da novela, leituras espritualistas, fé, sofrimento e religiosidade. E Chico Xavier, claro. “A gente conhece o sofrimento dos mais próximos, mas imagina o sofrimento dele com a dor de todos”, indaga Christiane.
Antes do início do set, Daniel e Christiane conversam sobre religiosidade no camarim do elenco






Enfim, com tudo pronto no set, o dia começa com a filmagem de uma cena antes do almoço. Na volta, serão cinco a serem rodadas – e todas com o “elevador” cheio de figurantes. Mas então Laura entra no estúdio e, bem-humorada e falante, levanta o astral no set. Ao vê-la, Tony faz uma reverência: “Mamadi!”, diz o ator, imitando seu personagem, filho de Laura na novela Caminho das Índias.

Enquanto esperam pelo próximo plano, dentro do cenário, o papo volta a ser animado, com todos contando histórias da televisão – afinal, estavam na roda Nelson Xavier, Laura Cardoso, Tony Ramos e Daniel Filho. Uma parte essencial da história da TV brasileira. “Para um ator, não existe a `participação especial`. Especial é você ser convidado a fazer parte de um projeto como este, nem que seja uma passadinha só”, diz Laura, após a animada conversa. “É uma honra trabalhar com Daniel de novo. Já fiz três ou quatro trabalhos com ele, que sabe o que pedir para o ator porque é um ator maravilhoso”, diz. E parte para sua cena: uma passagem rápida, em take único, mas com uma sensibilidade que emocionou até a diretora-assistente Cris D`Amato.

Outra pequena cena entre Tony e Nelson também sensibilizou muita gente. Inclusive Tony e Nelson. “Quem conheceu Chico sabe como está lindo o seu trabalho”, diz o primeiro para o segundo. E um longo abraço sela o momento…

Laura Cardoso passou como um furacão por Chico Xavier. Chegou, trouxe alegria e emoção ao set e despediu-se ao fim do dia, com um lindo buquê de rosas vermelhas… “Dona Laura! Que faz de um plano um filme!”, agradeceu Daniel.

Na outra despedida, Babaya passou com Nelson as falas de Chico para hoje. Mas, como o ator só entrou para filmar as últimas cenas do dia, lá estava a professora de prosódia com suas palavras cruzadas na mão. E então a surpresa: na primeira página da revistinha, veio a pergunta das cruzadas: “Ator, diretor, cineasta e produtor de TV, este brasileiro contribuiu notavelmente para o crescimento do cinema nacional (…).” Alguém sabe responder? Uma dica: é o diretor de Tempos de paz, Se eu fosse você 1 e 2, A partilha, Primo Basílio… e de Chico Xavier.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

FILME CHICO XAVIER: 06/agosto

Rosas para Ângelo e Matheus


E a casa de Chico veio abaixo… No estúdio A da Herbert Richers, o cenário reproduzindo a casa de Chico Xavier em Uberaba já cumpriu sua função. Em seu lugar será montado o Centro Espírita, e bem ao lado dele estarão os corredores de uma TV e o switcher – que já estão em fase de pintura e quase pronto para ser “dressado” (quando serão colocados os móveis, equipamentos e acessórios de cena).

Por enquanto, este espaço é apenas dos cenotécnicos, porque as cenas de hoje serão feitas na estrutura do prédio da Herbert Richers: o set é um camarim e na sala ao lado estão montados o Video Assist e o som.

Será usada uma lente chamada Macro, usada para filmar coisas microscópicas. A lente encantou Daniel, que resolveu filmar seu olho: “Verdão, hein?”, disse, a respeito de seus olhos pelo monitor. “Mas tá enrugadinho, enrugadinho…”, analisava. “De perto ninguém é normal, Daniel”, brinca o gerente de imagem digital Miguel Lindenberg.

Gil Otero e os assistentes de câmera Silvia Gangemi e Tiago Rivaldo preparam a cena com a macro, com Gabriel Santucci, responsável pelo Video Assist, de modelo para a marcação (fotos de Ique Esteves)




Na cena, há um assistente de produção (vivido por Pablo Sanábio). Neste personagem, Daniel faz uma homenagem a um grande amigo, que foi seu assistente na primeira versão da novela Roque Santeiro – a que foi vetada pela censura. No crachá do rapaz está escrito: José Carlos Pieri.

O set apertado de hoje – apenas o camarim e o corredor – deu a Daniel mais espaço no “elevador”. Explica-se: uma das coisas que mais irrita o diretor é o excesso de gente no set. Sempre que isso acontece, ele pede: “O elevador está cheio! Vamos esvaziar o elevador!”. Hoje, só fica quem é essencial para fazer o elevador subir.

Uma curiosidade sobre o dia: hoje serão filmadas a primeira e a última cenas do filme. Exatamente a abertura e o encerramento. Duas cenas de forte impacto.

Pouco antes do almoço, Ângelo Antônio chega ao set – para seu último dia como Chico Xavier. Encontra-se com Matheus Rocha – que também diz adeus a seu Chiquinho hoje – e assiste a uma das cenas de Nelson.

Antes de filmar sua última cena, que reúne as três gerações de Chicos, o ator dá entrevista para o making of do filme, dirigido por Gil Baroni. Alguns trechos:


“Pra compor o meu Chico, a primeira coisa foi ler o livro As vidas de Chico Xavier. Depois fui a Pedro Leopoldo e a Uberaba, conheci as pessoas que Chico conheceu, percorri os caminhos que ele percorreu. Isso me trouxe mais referências, mais detalhes, me fez pensar ainda mais na questão espiritual. Mexer com isso me fez revirar sentimentos, medos, sonhos… Pra buscar chegar à alma, à energia e à freqüência de Chico”, diz Ângelo.

Sobre trabalhar com Daniel Filho: “Foi um aprendizado. Já tínhamos trabalhado juntos na TV, e em A justiceira ele me disse: você é do cinema. O olhar dele pra tudo é impressionante. E ele foi muito generoso: plantou uma semente e me deixou livre pra colher. Foi bom jogar com Daniel. Dentro e fora de campo.”

Outra pergunta se refere à semelhança entre o ator e um médium. Existe? “Todos nós somos antenas, alguns mais, outros menos preparados para receber sinais. A forma como traduzimos isso é que talvez faça a diferença da linguagem simbólica entre o ator e o médium. A gente vai atrás dessas conexões com o inconsciente coletivo, com o sentimento e a emoção.” Isso é um pouquinho de Ângelo Antônio – e um pouquinho do que ele emprestou ao seu Chico. O resto, só no making of…

Outra despedida sentida por todo mundo foi a de Matheus Costa, 11 anos, que além de encantar a equipe com seu profissionalismo e talento, cativou a todos pelo jeitinho educado e alegre, sempre receptivo a um bom papo ou a uma brincadeira. Matheus esteve no set para rodar a última cena do dia, em que os três Chicos – de alguma maneira – se encontram (é claro que como isso acontece é um segredo de estado…).

A equipe se transfere para o estúdio B da Herbert Richers. Ao chegar lá, Daniel mostra, discretamente, a Ângelo e Matheus, um pequeno “filme sobre o filme”, feito para a Secretaria de Cultura de Paulínia. Sem fins promocionais, o filmete é como um trailer, com algumas cenas já editadas das várias fases de Chico. Só que o boca-a-boca faz o Video Assist encher. Ao final, eram mais de 30 pessoas assistindo – e aplaudindo essa primeira amostra do que será o filme depois de pronto. Elevador cheio. Mas dessa vez passa…


E então a festa de despedida. Daniel vai para o centro do estúdio com o já tradicional buquê de flores na mão. Aliás, dois buquês: um para Ângelo, outro para Matheus. “Terminam o filme hoje dois grandes atores, para quem eu peço o que vocês sabem fazer de melhor!”, e o set veio abaixo, com uma salva de palmas emocionada de dois minutos. Ângelo levanta o buquê como um corredor de Fórmula 1 levanta o troféu ao final da corrida; Matheus, como se tivesse acabado de fazer um gol. “Foi um privilégio trabalhar com você”, diz o experiente operador de câmera Gil Otero ao pequeno Matheus. “Você é campeão, viu? Não mude!”, aconselha Daniel ao menino, e depois cochicha alguma coisa no ouvido de Ângelo. Um agradecimento ao pé do ouvido entre diretor e um de seus protagonistas…

Os ‘campeões’ Ângelo Antônio e Matheus Costa, aplaudidos por Daniel Filho e por toda a equipe, que se despediu dos dois, emocionada






Para coroar o momento, o still do filme, Ique Esteves, programa a máquina fotográfica para registrar toda a equipe – que amanhã estará de folga – de Chico Xavier. Na foto, a família celebra o trabalho de dois de seus integrantes… mas vai sentir muito a falta deles.



Um último momento do dia de hoje: desde o início das filmagens, houve quem cultivasse a expectativa quanto a manifestações mágicas ou inexplicáveis no set, por conta do tema e do personagem do filme. Para a frustração ou surpresa de muitos, nada aconteceu. Até hoje.

Pouco depois de apresentar o trailer para Paulínia, e ao iniciar a última cena do dia (e do filme), com os três Chicos presentes no estúdio, um forte cheiro de rosas foi sentido por algumas pessoas da equipe: a continuísta Glaucia Pellicione, a maquiadora Rose Verçosa, a assistente de câmera Silvia Gangemi e o produtor-executivo Julio Uchôa. Num cantinho do set à meia-luz, logo atrás do Video Assist onde estava o diretor – e que exibia, nos três monitores, o Chico criança, o Chico jovem e o Chico maduro. Rosas…

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

FILME CHICO XAVIER - 05/agosto

O contador da história


Mais um dia nos estúdios Herbet Richers, aos pés do Alto da Boa Vista. E mais um dia com Nelson Xavier (Chico), Rosi Campos (Cleide) e André Dias (Emmanuel). Hoje o set recebe de volta Fernando Eiras, que vive o prefeito de Uberaba – ele, Rosi e Nelson gravaram o primeiro encontro dos três lá na primeira semana de filmagem, no set de um hospital em Cascadura…

O diretor de fotografia Nonato Estrela: três etapas para cores e texturas (fotos de Ique Esteves)







De lá pra cá, o tempo passou. Na vida real – estamos na sexta, e penúltima, semana de filmagens – e no filme. A história começa em 1918 e chega até 1975. São quase 60 anos da vida de Chico. Daqui para a frente, as filmagens se fixam nas décadas de 60 e 70. Novos personagens entram em cena , trazendo novas participações especiais de atores e atrizes de primeiro time.

A passagem de tempo poderá ser percebida também na fotografia de Chico Xavier. “Sob a batuta de Daniel, dividimos o filme em três fases, que vão mudando ao longo das décadas que o filme percorre”, explica o diretor de fotografia Nonato Estrela. “De 1918 a 1931 é a que chamamos de a `fase do fogo`. Ainda não havia luz elétrica, portanto os tons da fotografia são barrocos, terrosos, muito claro-escuro”, diz Nonato. Na pré-produção, conta, uma reunião entre Daniel Filho, o diretor de arte Cláudio Amaral Peixoto, a figurinista Bia Salgado e ele, definiu esses tons do filme – e que também serão percebidos no cenário e nos trajes do elenco e das centenas de figurantes que participam de todas as fases.

A segunda etapa da história é um meio termo entre a “fase do fogo” e a época mais atual. Em 1944, já existe luz elétrica, mas é uma luz amarelada – e fotografia, cenário e figurinos seguem essa textura. Já a época do Pinga-Fogo – que está sendo rodada agora e se extende até o fim das filmagens – tem um tom mais frio, puxando para o azul e o cinza da cidade de São Paulo. A época da luz fluorescente.

Às vezes, um imprevisto tem de ser resolvido e encaixado nesta paleta de cores e texturas. Hoje pela manhã foi a vez da figurinista Bia Salgado solucionar um problema. A primeira cena terá continuidade dentro de um avião – que só será rodada no último dia de filmagem no Rio. Mas o problema é para hoje: inicialmente previsto em azul, cinza e pêssego – as cores mais frias da década de 70 –, o terno de Chico teve de ser substituído às pressas, por conta do interior do avião, que inicialmente teria suas cores originais mudadas – e combinariam com esta roupa . Mas, por falta de autorização para que isso acontecesse, teve de haver a mudança do figurino. Uma cena que só acontecerá daqui a 12 dias tem de ser perfeitamente decupada com toda esta antecedência…

Esse passeio pelas épocas através da luz, das cores e das texturas poderá ser visto quando Chico Xavier for para os cinemas. O que não será visto é o enorme cuidado com os detalhes que isso engloba – e que, muitas vezes, por pequenas coisas, atrasa um dia de filmagem. Hoje, por exemplo, antes do ensaio para a cena mais longa do dia – uma conversa entre Chico (Nelson Xavier) e Cleide (Rosi Campos) – uma simples mesa de lanche paralisou o set por uma hora. Daniel não gostou do que estava sobre ela e, enquanto a arte providenciava a mudança, ele se retirou para o camarim, deixando um clima tenso no estúdio. Na volta, a cena teve sete takes – ao contrário do que prefere Daniel: ensaiar muito e filmar em um único take, aproveitando a emoção do ator na primeira vez que roda.

Fernando Eiras se despede de Nelson Xavier após sua cena










Nelson Xavier – e seu Chico na casa dos 60 anos – emociona quem está no set a cada cena. Não apenas por sua semelhança com o personagem real, mas pela forma como vibra quando percebe que a cena foi boa. No fim deste longo diálogo, o ator deu um soquinho na mesa e gritou “yes!!!”. Daniel, do Video Assist, respondeu: “yes, Nelson, yes!”.

Esta cena foi presenciada pelo “contador” da história. O roteirista Marcos Berstein visitou o set pela primeira vez desde o início das filmagens, para acompanhar como a história que escreveu no papel tomou vida através de Nelson, Rosi e Fernando Eiras. “Maravilhoso, Nelson”, cumprimenta Marcos. “Adorei a peruca, está perfeita”, diz, referindo-se à famosa peruca que o médium, nesta época, teimou em usar. Sentado ao lado de Daniel no Video Assist, ele pergunta: “E aí, está funcionando?”, e Daniel faz um pequeno retrospecto de cenas marcantes, episódios da viagem e histórias que aconteceram em paralelo. E antecipa que está absolutamente confirmado o encerramento do filme em Uberaba.

Quem trouxe a boa notícia foi o produtor executivo Julio Uchôa, que chegou esta manhã da cidade mineira com tudo acertado para uma grande seqüência, que deve reunir 2.500 uberabenses como figuração na rua. Ele esteve reunido com o secretário de Desenvolvimento Econômico, João Franco, e acompanhado pelo filho adotivo de Chico, Eurípedes Higino. “Salve! Uberaba está conosco”, vibrou Julio, após o encontro.

O produtor-executivo Julio Uchôa, que chegou de Uberaba para dar a boa notícia, e Sylvia Ramos, da pós-produção: laptops e trabalho nos sofás do set






Marcos Berstein também gostou da notícia. O roteirista, que usou como principal fonte para o roteiro o livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior, adaptou a biografia à linguagem cinematográfica. E inseriu outras informações trazidas pela diretora-assistente Cris D`Amato. “Cris foi importantíssima porque provocava, estimulava e dava idéias”, conta Marcos, que confessa não ter sido fácil escrever este roteiro. “É uma vida inteira que percorremos, muitas épocas, muitas histórias. E tendo como personagem principal um homem que seguiu uma trajetória de vida suave, mas que impactava quem o conhecia, causava grandes emoções às pessoas com quem cruzou pelo caminho. Cada espectador vai encontrar a sua emoção em uma cena diferente”, diz o roteirista.“Quando você olha para uma pessoa e só vê paz, bondade, compaixão e tolerância, essa é uma pessoa especial.”

O roteirista Marcos Berstein visita ‘a casa de Chico’ com Daniel e Cris D’Amato






É esta pessoa – que começa menino com Matheus, entra na juventude e na fase adulta com Ângelo, e percorre a maturidade com Nelson – que a equipe está, há mais de 40 dias, aprendendo a conhecer.

PS: no fim do set, o maquiador Ancelmo Saffi, que também é artista plástico, deu um quadro de presente a Daniel. “Pelo carinho com que ele me trata”, disse Ancelmo. A tela, que mostra um homem criando, é dedicada ao diretor. “Me reconheci pelo tênis!”, brincou Daniel.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

FILME CHICO XAVIER - 04/agosto

O Chico Xavier de Nelson Xavier


Segunda-feira, 22h. Um caminhão de entregas, com dois sofás que serão usados nas cenas de hoje, chega à portaria do estúdio Herbert Richers. O carregador se dirige ao segurança e pergunta: “O seu Chico Xavier está? Temos uma entrega pra ele…”.

A situação pode ser engraçada, mas o entregador não estava de todo errado. Durante as últimas seis semanas, a casa de Chico tem sido aonde está a produção do filme. Hoje – e até quinta-feira – sua casa é no estúdio Herbert Richers, na Usina, um velho conhecido do público brasileiro. Quem nunca ouviu a frase “versão brasileira Herbert Richers” no início de um filme certamente dormiu os últimos 40 anos. Ou não vê televisão. No mais importante estúdio de dublagem do país são produzidas mais de 150 horas de dublagem mensais, e vozes de atores como Bruce Willis e Eddie Murphy são, na versão brasileira, tão conhecidas quanto as originais.

Um nome que fez parte do elenco de Richers, no início da carreira, foi o de Daniel Filho! Ele era conhecido por ser um ótimo dublador e, conta a lenda, chegou a dublar de costas, acompanhando o movimento labial do ator pelo vidro do estúdio. Um de seus personagens marcantes no mundo da dublagem foi o do dr. Ben Casey (interpretado no original por Vince Edwards), na série de mesmo nome exibida aqui pela TV Excelsior. Em 2006, o diretor voltou no tempo para dublar Doc Hudson na animação Carros, de John Lasseter, que em inglês teve a voz de Paul Newman.

Mas a Herbert Richers foi Rede Globo e lá durante 12 anos ele produziu e dirigiu novelas. De Casarão a Dancin’Days. Seriados, de Ciranda, Cirandinha a Malu Mulher. Minisséries como Quem ama não mata a Primo Basílio. Mas lá também tem estúdios para filmagens – Daniel filmou ali como ator Boca de Ouro e dirigiu A dona da história, Partilha, Se eu fosse você, por exemplo – e hoje ele está de volta com a equipe de CX, que se dividiu entre o estúdio e várias salas para produção, direção, camarins, figurino e maquiagem.

Esta etapa das filmagens abre também um novo período a ser contado da vida do médium: a maturidade. Se em Tiradentes e Paulínia a história esteve voltada para seus primeiros anos, com Matheus Costa e Ângelo Antônio, a partir de agora Chico é de Nelson Xavier.

Nelson descontraído no set dos estúdios Herbert Richers (fotos de Ique Esteves)








As cenas de hoje – seis, no total – estão centradas no médium e em Emmanuel (o guia espiritual vivido por André Dias). O estúdio abrigará três cenários: a casa em Uberaba, os corredores e o switcher do programa Pinga-Fogo e o centro espírita de Chico Xavier. Destes, apenas a casa – sala, quarto, copa e um banheiro – será usada nas cenas de hoje. “O cenário está muito parecido com a casa verdadeira”, diz Daniel, que visitou a residência em Uberaba antes do início das filmagens.

A construção dos bastidores do Pinga-Fogo já está sendo levantada, bem ao lado. “Ontem vi pela quarta vez o programa original”, conta Daniel. “Desta vez me detendo especificamente na figura de Chico. É incrível como ele estava eloqüente, e mesmo com um jeito doce mostrava uma força e uma fluidez impressionantes”, completa.

Hoje o diretor passeou pela estrutura, fazendo algumas modificações técnicas: pediu para diminuir o espaço do switcher e acrescentar mais um corredor, apontou o local exato para a colocação dos monitores, entre outras especificações para a filmagem, que acontece depois de amanhã. Quando as cenas na casa estiverem encerradas, o lugar vai virar o centro espírita de Chico Xavier.

Este novo período abrange o fim da década de 1960 e a de 70, quando Chico já é uma personalidade conhecida nacionalmente e sua relação com o guia Emmanuel já atingiu um nível de trabalho incessante. E também muda a cenografia: detalhes como uma antiga televisão a válvula Philco, em preto-e-branco; um calendário original de 1971 do “Pôsto e Garage Luzitânia”; uma velha geladeira General Electric; uma antiga revista inTerValo, com a personagem Mônica, de Maurício de Souza, na capa… objetos de cena bem diferentes dos que foram mostrados nas duas primeiras fases do filme. Uma curiosidade: durante a pesquisa para encontrar a revista inTevValo, o diretor de arte Cláudio Amaral Peixoto deu com uma reportagem de 1969 sobre Véu de noiva, com uma foto do “galã” Daniel Filho…

Detalhes da época como a máquina de escrever, o telefone e o rádio e as fotos da família, com Chico jovem (Ângelo Antônio) e Carmosina (Carla Daniel)






É na sala de “sua casa” que Nelson Xavier está sentado, já caracterizado, concentrando-se para entrar em cena. Alheio ao movimento da marcação das câmeras, ele fecha os olhos e abaixa a cabeça – lembrando “um certo” Ângelo Antônio que, há uma semana, fazia o mesmo gesto no estúdio em Paulínia. Se os dois ensaiaram juntos para unificar o tom de voz e os trejeitos para viver o mesmo personagem, também parecem ser o mesmo ator – um alguns anos mais velho do que o outro –, na maneira como se afastam do “mundo” para entrar no mundo de Chico Xavier.

Enquanto isso, no Video Assist, Daniel tenta “convencer” Cris D’ Amato a participar com ele de uma das cenas do filme. “Ah, não, de jeito nenhum”, refuta Cris. “Só vamos ficar lá, sentadinhos, e eles filmam a gente”, rebate Daniel. “De jeito nenhum!”, enfatiza ela. Vamos ver se na tela vão aparecer, lá no canto, o diretor e a diretora-assistente fazendo figuração…

O dia foi de Chico Xavier e Emmanuel, com a participação, na primeira cena, dos atores Guilherme Bernard e Matheus Guedes, como Eurípedes e Vivaldo, os dois filhos adotivos de Chico. Depois desta, só deu Nelson e André. Entre uma e outra das cinco cenas que filmaram, o intérprete de Emmanuel recita uma frase à professora de prosódia Babaya, que voltou ao Rio para acompanhar esta primeira semana da nova fase do filme: “Deus é pai, Daniel é filho e eu sou o Espírito Santo”, brinca André, referindo-se a seu personagem.

Concentração total de Daniel e Nelson






Uma das últimas cenas do dia teve direito até a uma democrática votação: a questão era se um ator deveria estar de pé ou sentado à mesa. Pode parecer pouco, mas esta postura definia um clima de cena. Daniel colocou em votação. As mulheres da equipe, em sua maioria, votaram a favor do ator permancer de pé. Voto vencido para os homens. Mulheres 6 x homens 2. Daniel diz que as mulheres ganham, pois são elas que escolhem o filme a ser visto.

Bem no finzinho do set, Andre Dias – que já participou de vários musicais, como Rádio Nacional, Gota d’água e Ópera do malandro – solta a voz com Cole Porter. Pelo monitor – e pelo fone – Daniel, Babaya e o diretor de produção Luiz Henrique Fonseca vêem a cena e acompanham. O dia de Chico Xavier termina ao som de So in love…

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

FILME CHICO XAVIER - 03/agosto


Mais um dia no campo

O dia de Chico Xavier começou cedo. Toda a equipe ruma para a Ilha de Guaratiba, a fim de continuar uma seqüência que começou no estúdio em Paulínia. Na verdade, é uma única cena dividida em três seqüências e em vários planos. A base é o Rancho do Mineiro e o set, uma horta do outro lado da rua de terra.




O set hoje ficou a cargo da diretora-assistente Cris D`Amato (de vestido vermelho, à esquerda)





Todo o set está a cargo da diretora-assistente Cris D`Amato. E o tempo ajuda: há nuvens mas não chove. Um bom clima para uma externa que vai durar o dia inteiro. A longa cena mostra Giovanna Antonelli (Cidália) e sua tropa de filhos – mais os filhos de João Cândido, com Chico (Matheus Costa) e José (André Luiz Framback) entre eles. Como a cena anterior mostrava a apresentação de Cidália à filharada, o jeito foi trazer as seis crianças – e os respectivos responsáveis – para o Rio.

Só o bebê Cauã – o risonho de seis meses de idade que deu um show puxando a trança de Giovanna durante a cena no estúdio – não veio. Em seu lugar, o bebê-dublê Dante, do Rio, foi chamado. Em compensação, o choroso Nicolas (aquele quer queria porque queria ir ao Rodoshopping durante a cena em Paulínia…) está no set, firme, forte e totalmente ambientado. Pais e crianças vieram juntos ontem, estão hospedados no mesmo hotel e devem retornar a Paulínia amanhã.

Cris tem um jeito todo especial de “domar” os pequenos figurantes. Ao explicar a cena – que mostra uma passagem de tempo (1918, 1919 e 1922) através do crescimento das verduras da horta – a diretora-assistente encarna uma espécie de professora ensinando aos alunos: “Deixa eu explicar direitinho o que vai acontecer: vocês sabem que em um filme tudo é de mentirinha. Até o tempo. Aqui a gente vai fazer tudo ao contrário. É como se fosse uma gravidez, só que a gente vai começar pelo bebê nascendo e voltar pra trás até a barriga da mamãe. Entenderam?”, e então passa a explicar que eles devem colher, semear, arar a terra, mostrar felicidade e tristeza.

A locação pertence a um sítio e quem cuida da horta é `seu’ Walmir que conta, orgulhoso, que até a apresentadora Xuxa (que, segundo ele, tem um sítio ali perto) já comprou alfaces com ele. “Salsa, cebolinha, chicória, rúcula, tomate garrafinha e alface”, ele lista. “Tenho até planta medicinal.”

André Luiz Framback, que vive José dos 10 aos 14 anos, se despediu hoje do filme






Hoje é o último dia de gravação de dois membros da família de João Cândido: Giovanna Antonelli e André Luiz Framback, que vive José – o irmão mais velho e parceiro de Chico – dos 10 aos 14 anos. Ele é um menino simpático e risonho de 12 anos e um ator concentrado, com ares de gente grande. No Rio, em Tiradentes e em Paulínia, formou com Matheus Costa uma dupla de quase-irmãos: fora do set estavam sempre juntos, ensaiando, conversando ou batendo um campeonato de PlayStation portátil. André estreou na televisão vivendo o cantor Leandro quando criança, no especial Por toda a minha vida. Também fez as novelas Duas caras e Ciranda de pedra e a miniss érie Queridos amigos. Se durante a viagem foi seu pai, Paulo, quem o acompanhou, para a última cena quem veio foi a mãe, Gisele. “Eu sempre achei que ele ia desistir. Mas desde o primeiro trabalho ele se mostra cada vez mais entusiasmado em seguir a carreira”, conta a mãe de André.

Muita criança (Duda, Larissa, Igor, Isadora, Dante, Eloísa, Nicolas, Marília, Talis…) no set traz sempre história engraçada. A de hoje aconteceu quando a cena pedia que a garotada subisse um pequeno morro, com Cidália e o bebê no colo. Tudo ia bem até os pequenos avistarem um cachorro – preso, mas que começou a latir. Foi o bastante para todos ignorarem que a cena estava rodando e dispararem morrinho abaixo. O set inteiro caiu na gargalhada. Só André permaneceu ao lado do contra-regra Farinha no alto – e Matheus desceu correndo para amparar Giovanna e o bebê, que quase foram atropelados pela tropa…

Cris dirige Matheus Costa no cenário da horta













Outra cena divertiu a criançada: para simular chuva sobre a horta, a chegada de um caminhão-pipa despertou a curiosidade dos pequenos. Depois, quando ele “fez chover”, todos queriam tomar banho de chuva artificial… “Joga água na Giovannaaaa!”, grita Cris durante a cena, e as crianças entendem o recado: se divertem no aguaceiro.

O fim do set é marcado pela despedida de Giovanna Antonelli que, como Cidália, filmou rodeada de crianças, com barriga de grávida, com bebê no colo. No cenário da horta, a atriz, toda molhada pela “chuva”, recebe uma orquídea branca e o agradecimento de Cris D`Amato, em nome de Daniel e de toda a equipe. O diretor despediu-se de Giovanna por telefone, no exato momento em que Cris entregou a flor à atriz…

Em seu último dia de ‘Chico Xavier’, Giovanna recebe

uma orquídea branca e um telefonema de Daniel

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

FILME CHICO XAVIER - 02/Agosto

A redação e o hospital



Chico Xavier está de volta ao Rio, depois do término da primeira etapa de filmagens. As vans vão chegando ao prédio da Associação Brasileira de Imprensa, no Centro da cidade, e a equipe se reencontra após a folga para dois sets diferentes neste domingo. O primeiro não poderia ser mais oportuno: o sétimo andar da ABI vai se transformar na redação da revista O Cruzeiro, onde David Nasser (Charles Fricks) e Jean Manzon (Jean Pierre Noher) colhem os louros da reportagem que fizeram com Chico Xavier em Uberaba.

A administração da ABI, transformada na redação da revista `O Cruzeiro` na década de 40






No mesmo prédio – mas desta vez no auditório da ABI – será rodado o programa Pinga Fogo, do qual Chico Xavier participou em 1971, com enorme sucesso. Parte da equipe realizou hoje o tech-scout (reunião técnica) no lugar, para definir o posicionamento das seis (!) câmeras para a cena, que só será filmada na próxima semana.

Mas neste domingo a filmagem é no sétimo andar, onde funciona a administração da ABI. Mesmo estando em um andar alto, e num domingo de manhã, o set recebe o barulho dos ônibus da Rua Araújo Porto Alegre – e então o platô, com o auxílio da Cet-Rio, tem a missão de realizar um “fechamento intermitente” do trânsito na Araújo Porto Alegre, na Rua México e na Graça Aranha. A tarefa pode parecer complicada, mas acontece sem transtornos. São poucos minutos de fechamento por vez: só fecha na hora exata de rodar e o trânsito é liberado imediatamente após o ‘corta!’.

As cenas da manhã também marcam mais duas despedidas: a de Charles e Jean-Pierre. Os dois, vivendo a dupla Nasser-Manzon, percorreram as três cidades onde Chico foi filmado. Tiveram cenas em Tiradentes, em Paulínia e no Rio. E hoje deixam o set com um buquê de rosas vermelhas cada um. Jean-Pierre retribui o carinho dando de presente a Daniel um livro mostrando a relação de Jorge Luis Borges com Buenos Aires. Aliás, foi em Gramado, em 2000, que Daniel conheceu o ator, que protagonizou o filme Um amor de Borges. Foi a forma de Noher lembrar a Daniel este momento.







Charles Fricks, Daniel e Jean Pierre Noher: despedida com flores e Borges


A redação de O Cruzeiro também recebeu um figurante de peso: Woody Allen. Ou Israel Gomes, 60 anos, funcionário público. Ele é a cara do ator e diretor de Manhattan. A “descoberta” foi feita pelo assistente de figurino Alex Brollo no dia anterior, durante a prova de roupa. “Quando vestimos seu Israel com as roupas dos anos 40, notei uma certa semelhança. Arrisquei colocar um par de óculos igual ao do Woody Allen. E ele ficou idêntico”, conta Alex. O figurante fez sucesso. Até a diretora-assistente Cris D`Amato, ao fazer a marcação dos figurantes, arriscava um “Woody, vem por aqui!”.

Israel Gomes, mais conhecido pela equipe de ‘Chico Xavier’ como Woody. Precisa dizer por quê?






Seu Israel aparece algumas vezes na redação de O Cruzeiro. Mais uma pegadinha de Chico Xavier: a brincadeira de “Onde está Woody?”quando esta cena for para o cinema…


Mas nem tudo foi festa no primeiro set do dia. Daniel Filho tem olhos de águia. Vê tudo – principalmente o que não está de acordo. E hoje foi um dia de problemas: o contínuo de O Cruzeiro está de terno e gravata. Daniel vê. As luzes das mesas vazias não deveriam estar acesas, mas estão. Ele vê. Os indicadores de andar dos elevadores estão com o número digital… em 1944. Ele também vê. O faxineiro da “redação” não sabe manejar uma enceradeira. Daniel vê – e vai ensinar o rapaz a encerar (marcando o movimento, é claro). “Cada atraso é um plano que é tomado de mim, um plano que é tomado do filme”, diz Daniel para o produtor executivo Julio Uchôa.

E ainda há outro set para o dia de hoje, com duas longas cenas: após o almoço, Chico Xavier vai para o hospital. Lá, Chico (Nelson Xavier) tem mais um “aprendizado” com seu guia espiritual Emmanuel (André Dias). E estará acompanhado por sua fiel escudeira, Cleide, vivida por Rosi Campos. O local é o Hospital do Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro, na Ilha das Cobras (em frente à Praça Mauá).

Filmar em um hospital em atividade requer uma engenharia diferente. A primeira coisa é ser o mais discreto e silencioso possível. Só que discrição, quando se trata de um monte de equipamentos chegando em vans e caminhões e subindo pelos elevadores de serviço, é um pouco difícil. No corredor do terceiro andar do Hospital do Arsenal, o carrinho de comida dos pacientes divide espaço com o carrinho com a mesa de som de Carlos Alberto Lopes. O Video Assist é montado diante da copa.

Já o silêncio é, na medida do possível, respeitado – graças aos constantes lembretes do platô e do diretor de produção Luis Henrique Fonseca. “Psss… pessoal, isso aqui é um hospital. Tem gente internada, vamos fazer silêncio”, pede LH. “Paciência… há pacientes aqui”, faz o trocadilho Cris D`Amato.

Mas toda a movimentação da equipe parece não incomodar nem aos pacientes nem aos médicos e enfermeiras – que até tiram fotos com Rosi Campos. De repente, uma enfermeira atravessa o corredor pensando alto: “Hum… estou quase trazendo meus velhinhos para ver as modas.” Ou: certamente ela queria distrair um de seus pacientes fazendo-o acompanhar a cena…

Por estar localizado bem próximo ao Aeroporto Santos Dumont, o barulho de aviões decolando e pousando – com o ‘congestionamento’ de domingo ao fim do dia – é ouvido de 30 em 30 segundos… E a cena tinha mais do que isso… Fechar o tráfego aéreo o platô ainda não consegue fazer. Resultado: interromper a cada vez que uma turbina gritava mais alto…

FILME CHICO XAVIER - 01/Agosto

Até já, Paulínia


Dia 15 de julho chegava a Campinas e comecei as visitas às locações e ao estúdio em Paulínia. Iria rodar uma parte grande do filme Chico Xavier aqui. Conhecia o que tinha sido levantado pelo diretor de arte, de locações e de assistência da direção. O que eu imaginara era agora realidade. E nem sempre exatamente.
Apesar de saber que teria uma homenagem a mim no encerramento do Festival de Paulínia, logo no dia após a chegada, o acontecido foi muito além do que ia minha imaginação.


Além do troféu, tinha um pequeno, mas lindo, documentário da minha vida artística. Com minha mãe repetindo o conselho dado há 58 anos: “Não se mete a ser artista que você vai passar fome!”. Seguiu-se a exibição do meu último – ou penúltimo – filme, Tempos de paz. A falsa modéstia me impede de dizer o que ocorreu.


Dia seguinte começou a filmagem, que os leitores deste blog acompanharam.


Dirigir um filme é um festival de emoções. Fora de casa aumenta. A vida junto com toda a equipe, a surpresa que os atores sempre nos brindam com suas interpretações, as locações que acrescentam vida maior ao filme, os novos colaboradores locais, o entrosamento com os costumes da terra, a comida, a chuva que vem ou não…, gripes (não suínas), saudades de casa e alegrias de novos amigos. Viramos uma enorme família. No nosso caso, de 120 pessoas.


Dezessete dias intensos. Tudo correu certo. As autoridades locais prestigiando. Os representantes deste lindo projeto de cinema em Paulínia, atentos, ajudando e querendo ajuda para melhorar. Está ótimo e ficará melhor. Vi os novos quatro estúdios em construção. Ali a fila anda.


Quando deixamos uma cidade nos despedimos e dizemos “até breve”. No meu caso eu digo até já.


Ano que vem, se vocês quiserem, estou de volta.



Daniel Filho

terça-feira, 22 de setembro de 2009

FILME CHICO XAVIER - 31/julho

A primeira etapa chega ao fim





Nelson Xavier, Matheus Costa e Ângelo Antônio: os três Chicos que contam a história da vida do médium (fotos de Ique Esteves)














A caravana está de volta ao Rio. Após quase um mês na estrada, percorrendo dois estados e muitas locações, a equipe de Chico Xavier tem hoje um merecido dia de folga. Aliás, dois, porque amanhã acontece a preparação para esta nova etapa do filme, que começa no domingo.

Foram 27 dias de muito trabalho – mas também de muita diversão. O clima entre a equipe é sempre descontraído e alguns membros da trupe ajudam ainda mais a tornar prazeroso o trabalho árduo de se fazer um filme como este. Atores, como o impagável Luís Mello, o doce Ângelo Antônio, o amoroso Nelson Xavier ou o cativante Matheus Costa; técnicos, como o sempre bem-humorado Vô Du, o prestativo Chicão, a mãezona Gláucia Pelliccione, a tranqüila Glória Maria, o sereno Ancelmo Saffi, a meiga Cynthia Falabella; e produtores, como Julio Uchôa e Luiz Henrique Fonseca, sempre de alto astral. Em todos os setores, na frente e atrás das câmeras, a equipe que faz Chico Xavier seguiu, nesta primeira etapa da jornada, o lema de seu personagem: alegria, respeito e disciplina.


Assim foi durante toda a viagem: set cheio, muitos figurantes, muita disciplina… e muita descontração








Se na ida foram todos juntos, na volta a equipe foi regressando de acordo com a conclusão do trabalho. Houve quem já estivesse no Rio na quarta-feira à noite, logo após o término do set. Há quem ainda está lá, como os produtores Luiz Henrique Fonseca e Clara Machado, que voltam amanhã. E há os que ficam até terça-feira, como os cenotécnicos Ronaldo e José Paulo, além do assistente de contabilidade Carlinhos e da produtora de arte Joana Heliodoro – finalizando a passagem do filme por Paulínia, entregando o estúdio e os objetos utilizados em cena.

A maioria voltou de avião – mas há quem tenha vindo de ônibus (medo de voar…) e os que retornam com os carros da produção, para devolvê-los no Rio, como os assistentes de platô Juninho e Gaúcho. E, claro, os motoristas dos vários caminhões que fizeram parte do comboio, trazendo seus possantes de volta.

Os que vieram pelo ar retornaram ontem, logo após o encerramento da etapa Paulínia feito por Daniel, ainda no set. Muitos foram no mesmo vôo, às 19h30, e a confraternização continuou no café do aeroporto. Mesmo não sentando juntos, o vaivém entre as poltronas indicava que ali estava um grupo bem unido viajando…

Mas todos ansiosos em voltar para casa. Afinal, foi quase um mês longe de filhos, maridos e esposas, pais e mães, namorados e namoradas, irmãos e irmãs. Uma saudade compensada por alguns fatos, dentro e fora de cena, que ajudaram a que o tempo passasse mais rápido ou fosse muito mais gostoso…


Um dos momentos em Tiradentes: a participação do assistente de maquiagem Ancelmo Saffi (abraçado pelo diretor), cujo personagem foi ‘rebatizado’ por Cássio Gabus Mendes, que ensaiava a cena dizendo o nome verdadeiro do maquiador – e Daniel concordou…







Como a surpresa no rosto dos turistas em Tiradentes com o cemitério cenográfico montado atrás da igreja, logo no dia seguinte à chegada; o dia de filmagem totalmente zen na Cachoeira da Fumaça, com direito a almoço sob as árvores e com o barulhinho do rio bem perto; as festas da equipe no hotel e nos restaurantes – primeiro em Tiradentes, depois em Paulínia; a linda arquitetura e as ladeiras de pedras centenárias da cidade mineira; a figuração composta por velhinhos entoando cânticos pelas ruas, com seu José Vicente Carlos oferecendo seus serviços de jardineiro a Daniel; o nascimento dos gêmeos Antônio e Eduardo, do eletricista Marcão; as participações do maquiador Ancelmo Saffi e do produtor executivo Julio Uchôa como o “ homem da Bíblia”, que criou o jargão “E tome evangelho!” entre a equipe.

A simpatia de Pedro Paulo Rangel, um dos atores que engrandeceram o filme nesta primeira etapa







Depois, a estrada rumo a Paulínia, com a “tragédia” do banheiro do ônibus; a homenagem a Daniel Filho no encerramento do 2º Festival de Cinema, em que foi exibido Tempos de paz – visto por muitos da equipe pela primeira vez; a linda locação da Fazenda Santa Maria, em Tanquinho, onde a equipe filmou muitas externas em clima de campo; o som do apito da Maria Fumaça, que mesmo após tantas idas e vindas, ainda arrepiava todo mundo; a surpresa que Alex, pai de Matheus Costa, fez ao filho chegando ao set e que emocionou quem presenciou a cena; o cachorrinho Chico, que encantou Daniel e ficou com ele no Video Assist; as participações amorosas de Olívia Byington e Vera Mello; a comodidade do estúdio do Pólo Cinematográfico; as presenças de atores como Giulia Gam, Letícia Sabatella, Pedro Paulo Rangel, Ana Rosa, Anselmo Vasconcelos, Cássio Gabus Mendes, Paulo Vespúcio, que ficaram poucos dias mas deram um show.

Enfim, esta primeira etapa de Chico Xavier foi encerrada. Agora, é partir para a etapa Rio, que começa neste domingo e segue até 17 de agosto, quando uma equipe reduzida viaja para Uberaba, em Minas Gerais – terra onde Chico Xavier morou por boa parte de sua vida –, a fim de encerrar as filmagens.

Ainda há muito para acontecer – e muitas histórias para contar. Só que mais perto de casa…

FILME CHICO XAVIER - 30/julho

O último dia em Paulínia




Chegou o último dia de filmagens em Paulínia. E o clima é mesmo de despedida. A costumeira saída da equipe do hotel para o set hoje inclui mais do que as bolsas com o equipamento pessoal de cada um: no saguão, malas e malas se amontoam, já que muitos sairão direto do estúdio no Pólo Cinematográfico para o aeroporto.
Começa a desmontagem do cenário em Paulínia… (fotos de Ique Esteves)








Por conta disso, o set está previsto para terminar mais cedo, às 13h. Só restam quatro planos a serem filmados aqui, e sem falas. Mas é dia de trabalho e, embora as salas de figurino e maquiagem/cabelo já estejam sendo desproduzidas (um jargão cinematográfico para desmontadas), dentro do set a diretora-assistente Cris D`Amato está ensaiando os movimentos de câmera e as marcações para a primeira cena do dia.

Como hoje é um dia atípico, a equipe está concentrada – mas descontraída. Alguém diz que acha ter visto um pequeno camundongo dentro do cenário – ninguém tem certeza, mas a idéia para uma brincadeira é coisa certa. O contra-regra Farinha pega uma das beterrabas usadas pela Arte na cozinha cenográfica, amarra um fio bem fininho e ata o artefato ao cinto da calça. Quando anda pelo cenário, o “camundongo” vai atrás – para susto das mulheres da equipe, inclusive de Cris, que dá um pulo e um grito quando vê o “visitante” na sala de João Cândido…

Daniel chega às 10h e filma o que falta. Quando vai começar a rodar a última cena, chama todos da equipe – os do Rio, que viajaram com a caravana, os que se juntaram a ela em Paulínia – para acompanhar. Uma multidão de 80 pessoas entra no estúdio. “Só lembrando dos celulares desligados e silêncio, por favor!”, é claro que é Chicão, o chefe do platô, com seu jargão costumeiro.

A cena não podia ser mais simbólica: é Chico Xavier (Ângelo Antônio) psicografando. Apenas isso. A mão esquerda posta sobre a testa, os olhos fechados e a direita escrevendo velozmente à lápis. “Corta!”, diz Daniel pela última vez na cidade paulista. E então pede um minuto da atenção de todos.

“Reuni todos vocês porque acabamos de rodar nossa última cena aqui. A todos de Paulínia que nos ajudaram, em nome da equipe do Rio, muito obrigado. E à equipe do Rio: hoje chega ao fim nossa ‘excursão’. Estamos voltando pra casa!”. Aplausos demorados e todo mundo se emociona. Os que partem abraçam os que ficam. Como os produtores Fernanda Senatori (que volta para o Rio daqui a uns dias) e Michelle Bravi, Suellen Frazz e Belamir Freire – estes, moradores de Paulínia que integraram a família Chico Xavier por duas semanas.

E então os que têm de pegar o avião partem. E os que começam a desmontar o estúdio põem mãos à obra. “Vamos entregar o estúdio totalmente pronto na terça-feira. Por isso, hoje e amanhã a arte desproduz e depois entramos nós para tirar a estrutura”, explica Paulo, da cenotécnica.

Parte da equipe com Belamir (de camisa preta), Michelle (de camiseta verde) e Suellen (ao seu lado), que fizeram a produção na cidade






Entretanto, uma hora depois já está tudo descaracterizado. Dentro e fora do estúdio: o set já não se parece com a casa de Chico, os móveis e objetos da sala estão amontoados em um canto, nos quartos já não há cenografia e a cozinha está vazia dos acessórios verdadeiros usados em cena. Das salas (maquiagem, câmeras, figurino) tudo já foi retirado. E no hall, em vez da costumeira correria de técnicos, produtores, figurinistas, maquiadores e cabeleireiros, dos figurantes esperando para entrar em cena, da bagunça em torno da mesa de café, apenas os carregadores levando o material para os caminhões. Fim de festa…

E uma última surpresa. Ao “psicografar” durante a cena, Ângelo realmente escreve algumas palavras. Sabe o que ele escreveu?

“A Paulínia, um obrigado”


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

FILME CHICO XAVIER - 29/julho

Sem chuva, mas com muito trabalho

… e o dia amanhece sem chuva em Paulínia! Alguém lá em cima está ao lado da produção de Chico Xavier! Mesmo com a previsão da meteorologia apontando para o dia inteiro chuvoso, a caravana segue a seco para a Fazenda Santa Maria, em Tanquinho, a 30 minutos de Paulínia, para um dia de (muito) trabalho.

É o penúltimo dia de filmagem na cidade e a quantidade de cenas e planos é grande. Tanto que a equipe foi dividida em duas frentes: uma, com a direção de Daniel, segue para a estação de trem localizada próximo da locação usada para a casa de Rita, madrinha de Chico. A outra unidade, dirigida por Cris D`Amato, ficará na antiga sede da fazenda, do outro lado da linha do trem. As duas filmarão, no total, 17 seqüências, entre cenas e planos (cenas sem fala).




Daniel e os três Chicos: Matheus Costa, Ângelo Antônio e Nelson Xavier, que pela primeira vez estiveram juntos no mesmo set (fotos de Ique Esteves)





Um fato inédito: hoje, os três Chicos (Matheus Costa, Ângelo Antônio e Nelson Xavier) estão, pela primeira vez, no mesmo set. Logo pela manhã, enquanto Cris filma Chico/Ângelo em 1940 nas baias da Fazenda Modelo (em Pedro Leopoldo, onde o médium trabalhava nesta época), Daniel grava com Chico/Nelson dentro do trem em 1969, desembarcando em Uberaba. E Chico/Matheus aguardava sua hora de entrar em cena jogando PSP. Tempo e espaço se confundem, separados apenas por um grande pasto, onde vacas e cavalos assistem alheios à movimentação.

E as cenas continuam, simultâneas: Cris e a última cena de Luís Mello no filme, em 1922; Daniel e Ângelo filmando em outro trem, em 1959 – dois trens foram usados nas cenas hoje. Cris com Matheus Costa (Chico criança) entrando na fábrica na década de 20; Daniel recebendo mais uma “participação amorosa” no filme (a assistente de produção executiva Vera Mello, como uma das passageiras do trem) e gravando um plano de cima da locomotiva, com mais uma traquitana para dar sustentação à câmera, no fim da década de 50.

Vera Mello (à frente) com suas companheiras de trem: mais uma participação amorosa no filme






E então um susto: pelo rádio, a assistente de câmera Silvia Gangemi avisa ao diretor de produção Luiz Henrique Fonseca – que estava do outro lado da linha do trem, em “1959” – que a câmera 16mm usada para fazer cenas especiais (reproduzindo cenas verdadeiras) quebrou. Luiz Henrique coloca um técnico em contato com Silvia pelo telefone, de São Paulo, mas o diagnóstico não é bom. A câmera não poderá ser utilizada. “Tivemos que gravar a cena com a RED mesmo, a câmera digital com a qual todo o filme está sendo feito, e depois será dado o mesmo tratamento de imagem de uma 16mm”, explica o experiente câmera Gil Otero.

Pelo menos, nada de chuva ainda. De vez em quando uma nuvem carregada aparece no horizonte, mas um sopro mais forte a leva embora. Na plataforma da estação, enquanto esperam a arrumação de outra seqüência, acontece uma cena digna de registro. Daniel e Ângelo sentados, lado a lado, conversando. Em determinado momento, falando sobre livros, o ator pergunta:

“Se você fosse para uma ilha deserta e só pudesse levar um livro, qual levaria?”

“Eu levaria um livro de poesia”, responde Daniel. “Uma poesia você pode ler várias vezes, de muitas maneiras diferentes…”

“Não levaria Shakespeare?”, quer saber Ângelo.

“Só se eu aprimorar mais o inglês para ler no original. Quando leio Fernando Pessoa, mentalmente leio com sotaque português… Com Shakespeare teria de ser a mesma coisa”, responde Daniel. É ou não é uma cena de cinema? Só que ainda há muitas outras para rodar à tarde. E logo Chico Xavier/ Ângelo Antônio entra no trem, deixando Pedro Leopoldo – e a poesia – para trás…

No almoço – uma paella preparada por Carlos Guilherme, dono do catering que abasteceu a equipe em Tiradentes e que, a convite da produção, acompanhou a caravana, agora só como chef – uma surpresa: Daniel entra com outro buquê de flores nas mãos, pedindo um minuto de atenção. “Pessoal, hoje vamos perder nossa ‘opção chuva’. Mas que não sairá de nosso coração e de nosso celulóide. Ao nosso querido Luís Mello!”. E o almoço se transforma em festa. Todos aplaudem e, fazendo jus ao bom humor e espírito brincalhão de Mello, soltam gritinhos de “Te amo!”, “Poderoso!”, “Lindo!”. Quem não entendeu o ‘opção chuva’ de Daniel, é só procurar no arquivo deste blog… que a piada é explicada.

Ângelo Antônio e a assistente de direção Anita Barbosa se despedem de Luís Mello




Depois da homenagem, Daniel dá um depoimento para a produtora D7 Filme, que faz um documentário para a Film Commission de Paulínia, e recebe jornalistas dos jornais Tribuna de Paulínia, Correio Popular, de Campinas e região, e Todo Dia, de Americana e região. Bem-humorado – e “dirigindo” o posicionamento da câmera para a entrevista – , Daniel fala sobre Chico Xavier, sobre o filme, sobre as locações e o apoio da cidade às filmagens.

Em determinada altura, quando um dos repórteres pergunta se já havia acontecido algo “mágico”durante as filmagens, Daniel cita o tempo. “Se você quer mágica, é não chover hoje. Mas não acho que Chico Xavier tenha algo a ver com isso…”. De qualquer forma, o santo do diretor é forte: pela manhã a equipe da produtora saiu de São Paulo embaixo de um temporal (que passou a 10 quilômetros da fazenda) e em Campinas choveu granizo.

Lembram de Chico, o vira-lata simpático que ‘interpretou’ Lorde, o cachorrinho de Chico Xavier? Pois então: para ele também há passagem de tempo. Aqui, o figurante Guilherme, que entrega o cão ao médium no filme, segura o filhote que vive Chico (o cão) bebê

O dia está acabando e, com ele, a última filmagem externa em Paulínia. Amanhã, o último dia na cidade será no Pólo Cinematográfico. E a cena é bem significativa: também marca despedida de Cássio Gabus Mendes (que faz o padre Júlio Maria, o antagonista de Chico Xavier na década de 40) e de Oswaldo Mil, que vive José, o irmão e parceiro de Chico nesta época. “É sempre um prazer fazer qualquer coisa com Daniel”, diz Cássio. “Mesmo um papel pequeno tem uma força muito grande. E este é um filme especial, por falar de uma pessoa especial. Desde que eu me entendo por gente acompanho a história de Chico Xavier. E hoje eu estou aqui, pertinho dele…”, conta o ator.

A luz do dia foi embora, as flores e os agradecimentos são entregues a Cássio e Oswaldo. Um mugido de uma das vacas no pasto corta a cena. Um galo canta fora de hora. Está quase na hora de a caravana de Chico Xavier seguir viagem…

Daniel pode não acreditar, mas foi só terminar a enorme seqüência de externas para, na estrada de volta a Paulínia, um temporal desabar sobre as vans da equipe…

sábado, 19 de setembro de 2009

FILME CHICO XAVIER: 28/julho

O tempo…



Antes de os atores entrarem em cena, são outros os artistas do set.Para a primeira cena de hoje, uma engenharia no set deve ser efetuada – e mobilizou a maquinária, a elétrica, a arte e até o pessoal dos efeitos visuais. Duas paredes da sala de João Cândido serão retiradas e o grid superior (a armação do estúdio onde é presa a iluminação e diversos cabos e correntes necessários para segurar o equipamento) subirá até o teto do galpão. Isso para que um croma key (painel onde serão aplicados efeitos especiais para esta cena) seja instalado sobre o cenário. Fora toda a rotina de preparação do set.

Por isso o supervisor de efeitos Paulo Barcellos e os artistas gráficos Marcello de Souza e Daniel Dias estão presentes desde cedo no estúdio. Paulo acompanha diariamente as filmagens, e está sempre ao lado do diretor no Video Assist. Mas hoje, pela peculiaridade do efeito, Marcelo e Daniel vieram de São Paulo especialmente para ver a cena – e partem de volta assim que ela for encerrada.

Além do croma key, um outro efeito bem interessante será utilizado nesta cena: o chamado Hollywood Out, um movimento que faz com que móveis, objetos ou o que for necessário “sumam”de plano. Mais uma vez, o Professor Vô Du e suas invenções: ele adaptou um Dolly Fischer 10 – o popular “carrinho de câmera sobre trilhos” – para esta função. “Antes, quem iria sumir de cena era o ator. Mas isso iria trazer outros problemas. Então fizemos com que o que estava em volta dele desaparecesse. Em vez de movermos o banquinho, movemos o piano”, explica Vô Du, com seu humor costumeiro.

Mais uma traquitana do chefe da maquinária entra em cena: o carrinho da câmera adaptado para o Hollywood Out, um movimento que faz mágica no cinema… (fotos de Ique Esteves)


O trabalho no set será intenso: serão oito cenas neste dia de trabalho – o penúltimo em Paulínia. Do lado de fora, a equipe de produção também está a mil, marcando passagens; agilizando a volta dos equipamentos; a desmontagem do set após a partida dos técnicos, dos atores e do diretor; e já finalizando a logística para as primeiras cenas a serem filmadas no Rio. E, claro, cuidando de todos os detalhes dos últimos dois dias na cidade paulista.

As cenas de hoje retratam o que Chico Xavier fez de sua vida: a bondade, a caridade, a compaixão e, claro, a psicografia. No set estarão, mais uma vez, o casal Carmem (Ana Rosa) e Perácio (Anselmo Vasconelos) e o irmão de Chico, José (Oswaldo Mil). Uma das cenas – a 57 – é dividida em várias seqüências, que por sua vez são divididas em vários planos. Isso preocupa o diretor. “Temos quatro travellings e cinco páginas de roteiro para gravar após o almoço”, divide sua expectativa com Cris D`Amato.

Ângelo Antônio se concentra para a cena já em sua ‘mesa de trabalho’





A tarde começa com uma dupla preocupação com o tempo: a de Daniel e a do diretor de produção Luiz Henrique Fonseca. Só que o tempo deste último é o clima mesmo. Do lado de fora do estúdio, ele olha para o céu nublado. “A previsão é de chuva para amanhã”, comenta. A ansiedade se justifica: no último dia de Paulínia, a equipe estará dividida em duas frentes de filmagens simultâneas, com mais de 10 cenas a serem filmadas. E todas externas! “Odeio chuva!”, brada.

Já a preocupação de Daniel com a filmagem das cenas pode ser cronometrada em tempo real: para as cinco seqüências de cena 57, foi gasta 1h30 – das 15h30 às 17h. A próxima cena, rodada meia hora depois (tempo para a desmontagem e montagem do set) terminou às 18h. A cena 73 começou imediatamente, pois não havia nada a mudar no cenário. Mas trouxe uma convidada muito especial ao set. Mais uma “participação amorosa” em Chico Xavier (como foram a do produtor executivo Julio Uchôa, a do assistente de maquiagem Ancelmo Saffi e a do assistente de platô Gaúcho): a cantora Olívia Byington fará parte de um grupo que vai ao centro espírita de Chico.

A figurinista Bia Salgado, a maquiadora Rose Verçosa e assistente de maquiagem e cabelo Glória Maria rodeiam Olívia Byington. Nunca uma figurante foi tão paparicada!




Olívia, namorada de Daniel, é também gerente de midias online do filme. “Eu estava louca pra brincar de anos 30, adoro essa época” conta Olívia, cujo personagem foi batizado de “a mulher chique mineira”. A figurinista Bia Salgado, inicialmente, tinha escolhido um vestido preto para a cena. “Aí a Olívia disse: ai, viúva não, por favor!!”. E achamos melhor trocar a roupa…”, conta Bia. Depois da cena, Olívia volta ao set com umas notas de real: “Viu? Quem trabalha ganha”, diz, mostrando seu cachê. Muito justo!

Juraci de Souza dividiu a cena com Olívia. Aos 78 anos, ela foi chamada por acaso para viver a “senhora com a perna inchada” quando visitava o neto no Pólo Cinematográfico. “Minhas pernas tremiam feito vara verde”, conta ela, que não é atriz. “Mas aquele senhor (Daniel Filho) deixou a gente mais calmo”, conta dona Juraci, que sempre foi espírita, mas há pouco tempo tornou-se evangélica. “Mas Chico Xavier era um homem muito bom…”, diz.

E então a última cena do dia – que começa às 20h e termina às 21h. A preocupação com o tempo de Daniel se justificou. Mais ainda a de Luiz Henrique Fonseca: às 18h, cai uma chuva no Pólo de Paulínia. Com direito a trovoadas. Frio na espinha para a maratona de externas de amanhã… “Odeio chuva!”, brada Luiz Henrique de novo…

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

FILME CHICO XAVIER - 27/julho

Concentração total


Se ontem o set esteve leve com a presença das crianças, hoje a história é diferente. O ano é 1931, Chico tem 21 anos e irá presenciar um drama em sua família. Um momento forte do filme que deixou toda a equipe na expectativa. Principalmente Larissa Vereza, que vive Lúcia e que estará em toda a seqüência de seis cenas que serão gravadas hoje.

Angelo Antônio e Luís Mello no set, concentrando-se antes de iniciar a primeira e forte cena do dia (fotos de Ique Esteves)

“Estou muito ansiosa. E se eu ficar meio esquisita depois, ninguém estranhe!”, confessa Larissa. A ansiedade é compreensível; a preocupação, não: a atriz ganhou o papel de Lúcia justamente com esta cena, no teste realizado no Rio. “Ela faz superbem. É uma passagem muito intensa”, conta Cynthia Falabella, que ensaiou com os atores na base carioca.

Esta cena também trouxe de volta ao set os atores Anselmo Vasconcelos e Ana Rosa, que vivem o casal de médiuns Perácio e Carmem. Na vida real, foram eles que tranqüilizaram Chico quanto ao seu dom, até então incompreensível para ele. Aqui, o leitor terá que usar a imaginação para saber por que eles estão nesta cena…

Anselmo Vasconcelos, que vive o médium Perácio, marido de Carmem (Ana Rosa), também está mais sério por conta da cena










No set, a montagem do equipamento é feita, estranhamente, com muito pouco barulho e sem correria. Ângelo Antônio, ainda com a equipe arrumando a luz, senta-se em uma cadeira de balanço no canto do cenário e fecha os olhos, balbuciando alguma coisa: o texto, uma prece, um mantra? Não dava para ouvir…


Pouco a pouco, os atores entram na sala de João Cândido – antes mesmo de o diretor chegar ao set – e cumprem o mesmo ritual. Isolam-se, concentrados – uma situação inédita desde o início das filmagens. Ângelo ainda está imóvel na cadeira de balanço; Oswaldo Mil (José) lê em uma poltrona; Luís Mello (João Cândido) senta-se à mesa de jantar, com expressão séria, o rosto entre as mãos; Carla Daniel e Ana Rosa sentam-se lado a lado, em silêncio.E Larissa Vereza está destacada, começando sua transformação em Lúcia. É assim que Daniel Filho encontra seu elenco. Também ele chega silencioso, vai de um em um e faz um afago. Cris D`Amato avisa: “Hoje só fica no set quem é absolutamente necessário.”
Após a marcação da cena, começa o primeiro ensaio. Os que ficaram no estúdio estão de olhos vidrados, principalmente na interpretação de Larissa. “É uma cena muito forte, mas que condiz com o que acontecia na década de 1930”, explica Ana Rosa, praticante do espiritismo desde a década de 1970. “Eu comparo o ser humano a um rádio: é simplesmente uma caixa vazia, mas que sintoniza o que está no ar. Pra mim, esta cena marca uma fase importante do filme”, diz Anselmo Vasconcellos, hoje agnóstico, mas criado pela família dentro dos princípios kardecistas. Pelos comentários dos atores, já dá para antever que a cena é um dos pontos marcantes da história…
Um momento no set é um exemplo interessante sobre como Daniel dirige seus atores: Larissa já está há mais de meia hora concentrada para sua cena, o que significa que a atriz já tem toda a carga de emoção e sofrimento necessários. “Não, Larissa, não se concentra tanto tempo antes. Senão, na hora em que eu precisar você vai estar extenuada. Desconcentra, relaxa, vamos brincar”, diz o diretor, e começa a dar uns tapinhas nas pernas da atriz: “Ei, olha pra mim. Quer sair um pouquinho? Sai, vai dar uma volta.” Na hora da cena, Larissa está em ‘ponto de bala’.

Depois da primeira – e mais pesada – cena do dia (e ainda faltavam outras cinco), a palavra mágica: “Almoço!”. Saem todos em direção ao local de alimentação – inclusive Ângelo Antônio, com os sapatos desamarrados. Explica-se: desde que começou a pesquisar a vida do médium, Ângelo vem colecionando talismãs (o lenço, o perfume…) e hábitos de Chico. Ao visitar Uberaba pela primeira vez, antigos amigos do médium contaram que ele nunca amarrava os sapatos. Desde Tiradentes, Ângelo é visto andando no set com o cadarço desamarrado…


Os sapatos desamarrados de Ângelo, um hábito de Chico Xavier adquirido pelo ator













Outras cenas desta mesma seqüência entram pela tarde adentro. E após a última do dia, mais despedidas: Larissa Vereza e Carla Daniel dão adeus a Lúcia e Carmosina. Buquês de flores entregues por Daniel e a brincadeira: “hoje nos deixam duas grandes atrizes, que ainda por cima são filhas de grandes atores.” Larissa é filha de Carlos Vereza e Carla… de Daniel Filho. Palmas da equipe – e mais duas pessoas da família Chico Xavier saem da caravana…






A despedida de Carla Daniel e Larissa Vereza da ‘família’ de Chico Xavier: as atrizes receberam flores e os agradecimentos do diretor