quarta-feira, 7 de outubro de 2009

FILME CHICO XAVIER - 14/agosto

Uma cena de dois dias

Hoje é um dia muito importante no set de Chico Xavier. São 39 seqüências a serem gravadas, 11 páginas de roteiro, seis câmeras de alta definição focando a ação e alguns reforços na equipe para fazer com que a logística da mais longa cena do filme seja rodada.

O set é o auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e o cenário, o estúdio da TV Tupi onde foi gravado o programa Pinga-Fogo – um marco na história de Chico Xavier e do próprio programa, que teve na edição em que o médium foi entrevistado, em 1971, uma de suas maiores audiências. Até hoje os seguidores de Chico lembram de sua participação do programa.

O palco do Pinga-Fogo recriado no auditório da ABI, no Centro do Rio (fotos de Ique Esteves)





O ator Paulo Goulart é um deles. Espírita há mais de 40 anos, assim como a mulher Nicete Bruno, ele lembra de ter ficado com os olhos grudados em sua TV preto-e-branco do início ao fim do programa. “Conheci Chico em várias situações. Em plena ação, no lançamento de um de seus livros em São Paulo, e até no finalzinho da vida, quando ele estava bem fraquinho”, conta Paulo, que hoje teve mais um encontro com Chico – só que dessa vez, na pele de Nelson Xavier.

Paulo interpreta o apresentador do programa – que também traz os atores Glaucia Rodrigues, Thelmo Fernandes, Luis Serra, Daniel Jaimovich e Pablo Sanábio. Ao encontrar Nelson no set, Paulo lhe dá um abraço forte e comenta a semelhança entre ator e personagem. “Pra mim foi muito especial, por razões bastante óbvias, ser chamado para este filme”, confessa.

Paulo Goulart, o apresentador do programa, é espírita há 40 anos e se sentiu comovido ao participar




O cenário reproduz, mas com liberdade criativa, o palco do Pinga-Fogo. “Como o programa era em preto-e-branco, e a qualidade das imagens que chegam a nós hoje não tem a qualidade necessária, tivemos que traduzir para um filme colorido o que deu certo em P&B”, explica o diretor de arte Cláudio Amaral Peixoto, que optou por azul e mostarda para o cenário, por serem cores que se inserem em várias etapas do filme.

A Arte foi apenas um dos departamentos de Chico Xavier que vem trabalhando há muito tempo para este dia. E muitos tiveram que contar com reforços. As câmeras, por exemplo: hoje serão usadas três REDs. Então, foi necessário chamar o operador de câmera Fabrício Tadeu e a foquista Renata Reis para a terceira. As duas equipes fixas do filme também tiveram trabalho: na grua, Daniel Duran e Jorginho; e na terceira câmera, Gil Otero e Silvia Gangemi, assessorados por Daniel Xavier e Tiago Rivaldo, respectivamente.

Sem contar as três vedetes da cena, as câmeras RCA TK 60 – as que foram “apresentadas” à equipe ontem – e que vão funcionar de verdade. Para elas também foi necessária a presença de operadores, e não apenas atores fingindo trabalhar. E mais um pequeno monitor colocado no Video Assist, que estará gravando as imagens para revisão imediata.

Daniel com Cassiano (à frente) e Luizão: os três trabalharam anos juntos e utilizaram as RCA TK60





Como as câmeras precisam ser realmente operadas, a história merece ser contada em detalhes: são três RCAs no palco. Na primeira está Luiz Alberto da Silva, o Luizão, 65 anos de idade e muitos à frente de uma câmera. Luizão começou na TV Continental, inaugurou a Rede Globo em 1965 (onde pilotou uma RCA TK60), passou pela Excelsior e, em 1975, voltou para a Globo, onde está até hoje. Na segunda câmera está Ricardo Lopes da Silva (câmera freelancer), e na terceira, Gaúcho, hoje diretor de imagem da Globo, mas que foi câmera por muito tempo.

Como as câmeras realmente vão filmar, é necessário um diretor de imagens para controlá-las através dos monitores no Video Assist. Quem assume esta posição é Cassiano Filho, de 65 anos, e que atualmente está no seriado Toma lá, dá cá. “Você não imagina o que eu senti ao ver essas câmeras”, ele diz. “Foi muito emocionante, estão idênticas às verdadeiras”, diz Cassiano – que é pai de Ricardo, que opera a câmera 2.

Cassiano, Luizão e Daniel Filho trabalharam juntos por muito tempo. Mas ele lembra da primeira vez: “Foi quando Daniel, em 1968, ainda garoto, substituiu Ziembinski na direção de A rainha louca, na Globo.” E a primeira vez que usou uma RCA? Ele responde de bate-pronto: “Foi em Sangue e areia, com Tarcísio Meira.” Um cast de câmeras e tanto para operar, de verdade, as imagens que serão utilizadas em Chico Xavier.

O Video Assist `turbinado`com os três monitores das câmeras antigas (ao fundo) e o pequeno monitor para gravar as imagens




Por conta das três – ou seis – câmeras, Gláucia Peliccione, responsável pela continuidade do filme, teve de chamar, para reforçar seu time, o continuísta Leonardo Melo, que foi seu assistente aos 17 anos. E a dupla do som – o técnico de som Carlos Alberto Lopes e o microfonista Ricardo Sequeira, que vieram de Portugal especialmente para Chico Xavier – , também. Na mesa dos entrevistadores do programa, seis microfones de época transmitirão o som para uma segunda mesa, que será operada por Ricardo, enquanto Carlos Alberto continua operando a sua. No microfone de boom (como é chamado aquele microfone de haste que capta o som ambiente) ficará apenas Frederico Massine.

Além da grande quantidade de seqüências a serem rodadas, outro grande desafio é controlar a coreografia dos movimentos deste grande número de câmeras. Mas isso não é estranho a Daniel: “Hoje eu estou unindo meus dois mundos, o cinema e a televisão”, diz. Mas com um problema o diretor não contava: às 19h, o ator Thelmo Fernandes teve de deixar o set, por conta de sua peça de teatro. O que deixou Daniel chateado, já que não foi informado dessa impossibilidade com a antecedência necessária.

Nelson Xavier como Chico, no foco da RCA
Mas tudo acabou se resolvendo. O segundo assistente Bruno Garotti já havia pesquisado um dublê no cadastro da agência de figurantes – mas a solução estava bem próxima: um dos motoristas da produção Claudinho Carrasco.”Quando olhei para o Claudinho vi que ele era muito parecido com o Telmo”, conta Bruno.

Após uma pequena pausa, Daniel chama a equipe de volta para continuar a filmagem. Que seguiu com Claudinho de dublê, as RCAs rodando em perfeitas condições e as cenas sendo finalizadas a contento…

O programa continua amanhã. E Chico Xavier também…

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