Dia de prece
Chico Xavier entra em sua sétima semana de filmagem. E penúltima. As filmagens se encerram no Rio no próximo dia 17 de agosto. Mas ainda há as cenas finais em Uberaba, para onde uma equipe reduzida de 25 pessoas se dirige no dia 21.
Noventa figurantes no ensaio no ‘Grupo Espírita da Prece’, com Nelson Xavier e Rosi Campos em primeiro plano e Cris D’Amato, de costas (fotos de Ique Esteves)
Mas a história ainda não acabou! Ao contrário: em uma semana, ainda há muita coisa para contar e muitas cenas a serem filmadas. Hoje, por exemplo, é dia de oração no Grupo Espírita da Prece, o centro espírita de Chico Xavier em Uberaba na década de 1970. A equipe está de volta ao estúdio Herbert Richers e a movimentação é quase a de um templo religioso: muita gente (90 figurantes) que ficam em absoluto silêncio quando é hora de concentrar para rodar.
Quem entende de multidão é Nilse Lopes de Oliveira que, junto com a filha Sílvia, dirige a agência No Mundo do Cinema – que recrutou todos os figurantes para Chico Xavier no Rio, em Tiradentes e em Paulínia. Para o filme, elas tiveram que buscar tipos muito específicos, pessoas comuns, do povo. “E pra buscar gente do povo a gente foi pro meio do povo. Visitamos comunidades em busca do que o filme pedia, para as diversas épocas e situações a serem filmadas”, conta Nilse, que é dona da agência há 15 anos mas trabalho no meio há 30.
Hoje, por exemplo, estavam previstos 60 figurantes. Mas de manhã o número cresceu para 90 – e Nilse e Sílvia começaram os contatos por telefone para trazer o pessoal. Quando eles chegam ao set entra em cena o segundo assistente de direção Bruno Garotti. Da equipe de direção, ele é o responsável por cuidar de toda a figuração. Isso significa um trabalho prévio minucioso, realizado junto ao cadastro da agência.
A função de Bruno consiste em escolher a figuração (“Vi fotos atuais de 800 pessoas antes de começar o filme, para escolher quem se adequava a qual situação”, conta); corresponder às diretrizes de Daniel ao formar os grupos de figurantes para cada set; testar participações mais específicas (como um menino que saiba jogar pião, por exemplo). Isso tudo antes de rodar. Quando chega o momento de o “batalhão” entrar no set, Bruno está lá. “Eu situo as pessoas na cena, explico ações e reações que porventura a direção venha a pedir de cada um, fico organizando o pessoal”, conta. Bruno tem apenas 24 anos, mas Chico Xavier é o seu sétimo longa-metragem, e o terceiro com Daniel.
O segundo assistente de direção Bruno Garotti em ação: com apenas 24 anos, ele já fez sete filmes, sendo três com Daniel
O aumento em 50% do número de figurantes também chegou ao departamento de figurino: são mais 50% de roupas, sapatos e acessórios, que devem ser escolhidos e preparados em poucas horas. “É complicado, mas no cinema temos que saber lidar com imprevistos. Foram mais 30 pessoas que não tinham feito prova de roupa para vestir em uma manhã”, explica a figurinista Bia Salgado.
Tudo solucionado, figurantes em cena, Bruno à postos diante da “tropa”, é hora de ação. Hoje há mais uma “participação amorosa” no filme: a da diretora Cininha de Paula. Ela chega ao estúdio para uma única cena, mas tem uma boa expectativa quanto à sua personagem. “A Cris (D`Amato) me ligou dizendo: ‘olha, o Daniel está aqui ao lado e quer que você faça esta personagem’. Me senti feliz, pois a gente só chama para coisas contundentes quem a gente confia”, diz Cininha, que assim que chegou ao set fez cabelo, maquiagem, pôs o figurino e foi papear com Daniel. “Ele me conhece desde garota, antes mesmo de eu ser atriz e muito antes de virar diretora. A minha carreira se confunde com Daniel. Ele me orientou, me ajudou e me deu oportunidade”, diz.
No Video Assist, Daniel e Cris vêem o posicionamento dos figurantes em cena. “Figuração fantástica, hein? “, aprova o diretor. E logo depois começa a brincar de “assistente de direção”. Inverte os papéis e, enquanto Cris dá a diretriz da cena pelo microfone, ele vai até o cenário arrumar um vaso em cima da mesa. De lá, pergunta: “Tá bom, dona Cris?”, e volta para o Video Assist, continuando a brincadeira.
A cena é longa, com muitos planos, e entra noite adentro. São várias trocas de roupa para Nelson Xavier, Rosi Campos e para muitos figurantes. Além de Cininha, as atrizes Prazeres Barbosa e Rejane Zilles e o ator Edmilson Santini, caracterizado como um mendigo, contracenam com Chico Xavier e Cleide. O silêncio costumeiro quando a cena começa a rodar hoje tem um significado especial. Citando Chico Xavier, hoje, mais do que nunca, “o silêncio é prece”…
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