A cena tem que continuar…

O trabalho delas é uma função de meio, que tem como fim a edição. É pelas anotações da continuidade que nada irá se perder: desde os detalhes do figurino e do tom da maquiagem até questões como o eixo da câmera, o número da lente, o ritmo do movimento dos atores e a ligação entre os planos, cenas e seqüências e etc. “O continuísta não cria, mas tem que ficar de olho em absolutamente tudo. A intenção é diminuir os erros ao máximo”, conta Gláucia, que, na gravação de hoje, o segundo dia no set da igreja, tem muita coisa para olhar.
O set é complexo e minucioso, com muitos elementos e objetos de cena, mais nove atores do elenco principal, sete do elenco de apoio e 43 figurantes em movimento. Pouco antes de iniciar a primeira cena, a assistente Ana Paula (que está no último período de Cinema e já participou de alguns curtas) fotografa todos os detalhes do figurino do elenco e, um a um, os figurantes. Normalmente, faz uma média de 30 fotos para a continuidade. Hoje foram quase 100. Em certo momento, a continuísta encontra um anel de prata em um deles. Totalmente fora de época (a cena se passa em 1940) e de contexto. Fora com o anel do figurante.
Durante a cena, Gláucia não pára: cronometra o tempo, faz anotações na Folha de Cont – a planilha que mais tarde segue para a edição –, fotografa o que for necessário. Tudo em silêncio e com passos cuidadosos.

Todos os movimentos do set vão para essa planilha, e as fotos, para os departamentos de Arte, Figurino, Maquiagem e Cabelo. É um trabalho totalmente integrado e alimentado pelas anotações da continuidade.
Para estar ligada em tudo, o continuísta tem de ser calmo, conectado e detalhista. “É como a dança, requer uma coreografia, disciplina e concentração”, diz Gláucia, que foi bailarina, com formação clássica, antes de entrar para o cinema, há 10 anos.
Nesse tempo todo, ela fez muitos filmes. Mas Chico Xavier é especial. “Estou muito, muito feliz de estar nesse filme. Sou espírita, então Chico Xavier pra mim é especial. Eu sinto uma energia muito grande em cada cena e algumas, como as filmadas no hospital, são energeticamente muito fortes”, diz Gláucia, que confessa ter chorado após a primeira leitura do roteiro.
Ana e Gláucia formam uma dupla afinada. Mestre e discípula. Foi assim que se conheceram, num curso de continuidade. Gláucia acabou por chamar sua aluna mais aplicada para trabalhar com ela em "Chico Xavier".
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